quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Quadro demencial pode estar relacionado com alcoolismo crônico

O Jornal (AL)
Esquecimento de fatos recentes é um dos problemas cognitivos estudados em ex-alcoólicos, segundo pesquisa coordenada pelo Dr. Emílio Herrera Júnior, da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

De acordo com o neurologista da ABN, 91% dos indivíduos entrevistados tiveram dificuldades em recordar algo ocorrido após cinco minutos de conversa, resultado de problemas na formação de raciocínio dos ex-consumidores de álcool, diretamente relacionados à frequência e ao tempo de consumo da droga.

“A região mais afetada do cérebro pelo álcool é o córtex pré-frontal, responsável pelas funções intelectuais, principalmente o raciocínio. Os estudos mostram que quanto maior a quantidade de álcool consumida ao longo do tempo, maior será a lesão desse órgão. O hipocampo, que é responsável pela memória, e o cerebelo, que é responsável pela coordenação motora e equilíbrio, também são afetados”, revela a Dra. Célia Roesler, membro da ABN.

Segundo o I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, feito pelo governo federal em 2007, 52% dos brasileiros acima dos 18 anos bebem. Desse total, 65% são homens e 11% deles bebem todos os dias. “O cérebro começa a ser afetado de acordo com a quantidade, frequência, idade de início e o tempo de consumo”, ressalta a Dra. Célia Roesler. Ainda segundo o levantamento, é cada vez mais precoce a ingestão de bebidas alcoólicas por adolescentes: 13,9% iniciam o consumo de álcool entre 14 e 17 anos e 15,3% começam a beber entre 18 e 25 anos, sendo que esta última faixa etária é a que mais consome regularmente bebidas.

Dentre as bebidas mais consumidas pelos jovens brasileiros está a cerveja, para 61%, porém os destilados também fazem parte do cardápio. A cachaça, com 66% do consumo, é a bebida alcoólica mais consumida no País. “As bebidas fermentadas como a cerveja ou o vinho têm um teor alcoólico em torno de 15% enquanto que as destiladas, que passam por mais um processo, que é a destilação, chegam a atingir 60% a 70% de álcool”, avisa a Dra. Célia Roesler. Quanto maior o teor alcoólico, mais agressivas serão as lesões no córtex e no cerebelo. Assim, o indivíduo que consome ao longo da vida cachaça, vodca e bebidas “ice” terá um efeito mais nocivo e precoce do álcool no organismo.

Considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) um problema de saúde pública, o uso de álcool é muito mais prejudicial para o cérebro do jovem, que está em fase de formação, do que para o do adulto. “Por afetar o córtex cerebral, dificulta o aprendizado, faz com que tenha esquecimentos frequentes, fique depressivo, desmotivado e violento. Um adolescente que fez uso abusivo de álcool está cinco vezes mais propenso a se tornar um adulto alcoólatra”, diz Dra. Célia Roesler. Isso acontece porque a sensação de prazer associada à bebida faz com que se ingira álcool cada vez com mais frequência.

Por fim, a neurologista faz uma ressalva importante com relação à predileção por álcool por parte de jovens. “O álcool no período pré-natal leva a um maior risco de má-formação fetal. Existem estudos comprovando um maior índice de déficit de atenção, hiperatividade e ansiedade em indivíduos submetidos à exposição alcoólica na vida intra-uterina”, conclui a Dra. Célia.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)