quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Maioria dos agressores é usuário de drogas, diz Delegacia da Mulher

Por proteção, vítimas são levadas para abrigos do Tribunal de Justiça. Casa, que já recebeu mais de 3 mil mulheres, é vigiada pela polícia. Aumentou o número de casos de agressão a mulheres por companheiros usuários de drogas este ano em São Luís, segundo a Delegacia de Defesa da Mulher. As vítimas que mais correm riscos são levadas para a Casa Abrigo do Tribunal de Justiça até conseguirem voltar à vida normal. No local, histórias diferentes se confundem em meio aos relatos semelhantes das agressões. Em 12 anos de funcionamento, a Casa Abrigo já recebeu mais de três mil mulheres e crianças de famílias arrasadas pela violência de quem deveria protegê-las. O lugar é vigiado o tempo inteiro pela polícia. Este ano, foram registradas 5.330 ocorrências na Delegacia da Mulher, sendo a maioria ameaças e agressões físicas. As mais graves são estupro e tentativa de homicídio - crimes praticados principalmente pelos companheiros das vítimas. De acordo com a polícia, tem sido cada vez maior o número de ocorrência de mulheres que denunciam companheiros viciados em drogas. Do total de 1.181 registros feitos pelo Disque Denuncia de violência praticada contra mulheres nos últimos cinco anos no Maranhão, em 62% dos casos, o agressor era usuário de algum tipo de droga.

A maconha faz parte da armadilha

Folha de S. Paulo - RICARDO SAYEG A pretensa tendência de liberalização da maconha é um atentado contra todos. As drogas, inclusive a maconha, não devem ser nem sequer descriminalizadas. O seu uso pessoal extrapola as liberdades da intimidade e da vida privada das pessoas, por ser questão de saúde pública. De fato, é certo que o usuário de drogas não é um bandido. Antes de tudo, é vítima. A sociedade atual, voltada ao consumo material e às mídias massificadoras, sujeita as pessoas à desintegração das relações humanas e familiares, bem como ao vazio de sentido, propósitos e ideais. Os antropólogos falam da era do vazio, da era da decepção, da sociedade líquida, da antropologia da solidão. Para o desespero de Fernando Pessoa, se depender da sociedade atual, a alma será pequena. Na pequenez da alma, a terrível armadilha moderna, que está à espreita das pessoas, em especial dos jovens e mesmo das crianças: o uso pessoal de drogas, que joga o ser humano numa espiral para baixo, abrindo as portas da dor e da ruína. A droga acabou com as pessoas e com seus cérebros, arruinou sua dignidade, capturou suas almas, as conduziu para a criminalidade. No fim do poço, transformou-as naqueles zumbis da cracolândia, em condições infra-humanas. Dói só de pensar nas crianças recém-nascidas, filhas das mães do crack, sofrendo crise de abstinência e já com sequelas gravíssimas. Errado dizer que a a maconha não faz parte desta armadilha. Faz. Está comprovado que ela não é inofensiva. Aliás, o Levantamento Nacional sobre Drogas de 2010 é alarmante e demonstrou que tem relevância estatística o uso de drogas por crianças a partir de dez anos. Mostrou também que quem usa uma droga geralmente acaba usando qualquer outra. Não há humanismo em tolerar o uso pessoal de drogas. Ser indiferente ao uso próprio de drogas e deixá-lo ao critério da opção pessoal de cada um, especialmente por criar fácil acesso a jovens e crianças, é ser indiferente à saúde pública e na prática a todas essas vítimas que entregaram a sua dignidade. Inegável que a capacidade de discernimento do usuário fica prejudicada e não é ele, por si, que terá lucidez e força para pedir ajuda. Há quem defenda que se deve deixar as pessoas chegarem ao fundo do poço. Mas não dá para se omitir. Para piorar, o usuário de drogas acaba sendo refém do traficante e, ao fim e ao cabo, financia e contribui para a indústria do tráfico, na condição de consumidor final. Crime, violência e morte, tudo isso escrito pelo vermelho do sangue das vítimas, está intimamente relacionado ao império das drogas. Assim, o problema do uso próprio de drogas nunca é íntimo e privado, ainda que o consumo seja pessoal, íntimo e privado. É um problema grave e deve ser prioritariamente enfrentado pelas autoridades, com profundo respeito e consideração pelas famílias e vítimas desse mal. Isto é, mesmo o uso pessoal, íntimo e privado das drogas é um problema coletivo de saúde pública que merece resposta penal. Logo, não é o caso de descriminalizar. Não para vigiar e punir, como diria Foucault, mas para cuidar e desintoxicar, ainda que compulsoriamente. Significa que os usuários não deviam ser colocados na cadeia, muito pelo contrário, como problema de saúde pública, a resposta penal para o uso pessoal das drogas deve ser, como é, o encaminhamento para compulsório tratamento médico e desintoxicação.