quinta-feira, 7 de março de 2013

Álcool na adolescência é influenciado pela família, diz estudo da USP

Do UOL, em São Paulo 06/03/2013. Bebida é usada como válvula de escape para dificuldades e problemas familiares. Positiva ou negativamente, adolescentes são influenciados por seus familiares, dentro de suas próprias casas, em relação ao abuso do álcool. Essa é a conclusão de recente pesquisa desenvolvida pela enfermeira Betânia da Mata Ribeiro Gomes, em seu trabalho de pós-graduação apresentado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. A pesquisadora observou e entrevistou em seus domicílios, 22 membros de dez famílias, entre eles, 11 adolescentes de ambos os sexos, entre 14 e 19 anos, que consumiam álcool. O estudo aconteceu na Unidade de Saúde da Família, localizada em Recife (Pernambuco), entre julho de 2010 e agosto de 2011. Foram alvo do estudo apenas os familiares que moravam com o adolescente e tinham um laço mais próximo, como, pais, irmãos, tios. Em cada família, o convite se estendeu aos familiares que estavam presentes no primeiro encontro, realizado pelo estudo. "E no decorrer da pesquisa, a interação e os discursos indicaram a necessidade ou não de incluir outros familiares", comenta Betânia, que se ateve a temas como: estrutura, desenvolvimento e funcionamento das famílias; crenças que podem influenciar o consumo de álcool; as interações familiares que protegem ou que expõem os adolescentes ao consumo ou abuso de álcool; e o sentido da religião. A maioria dos entrevistados possuía renda menor que um salário mínimo. Alguns recebiam ajuda do governo e não tinham completado seus estudos, além de presenciar, em suas próprias casas, a prática do uso do álcool. Muitos adolescentes ainda presenciaram separações de seus pais ou morte de algum deles devido ao consumo de bebida alcoólica. Quanto ao relacionamento em família, Betânia verificou que a maioria sofria com desentendimentos, desafetos, problemas de comunicação, agressão, conflitos, violência e falta de interação. Prazer e prejuízos Para a pesquisadora, a decisão pelo consumo de bebida alcoólica foi associada ao prazer e diversão, principalmente relacionada às músicas, as quais, segundo ela, estão no contexto de vida desses adolescentes, incentivando o consumo. "É uma válvula de escape para as dificuldades e problemas familiares do cotidiano". Betânia percebeu que, mesmo com sentimentos de alívio, relaxamento, distração e dos momentos de lazer, os adolescentes não ignoravam os prejuízos do uso abusivo da bebida alcoólica, principalmente porque presenciaram os problemas que a bebida causou em seus próprios domicílios. As famílias, apesar de não se relacionarem adequadamente com os adolescentes, apoiaram seus membros e mantiveram esperança por meio de motivação ou da religião, pensando em um futuro melhor. "A religião pode favorecer o sentimento de esperança e, com ela, o gosto pela vida", afirma. Ela notou ainda que os adolescentes se preocupavam em manter viva a motivação para uma vida melhor, para a conquista de trabalho qualificado e da casa própria, além de tentar realizar os sonhos que não foram possíveis para seus pais. Betânia concluiu que os familiares influenciam os adolescentes de forma positiva e negativa quanto ao uso e abuso do álcool. "A estrutura e composição da família, o padrão de interação familiar, a comunicação entre seus membros, a religião e a esperança são componentes que se articulam diretamente com a prática do consumo de álcool pelos adolescentes". A tese A influência da família no consumo de álcool na adolescência foi orientada pela professora Lucila Castanheira Nascimento e defendida em setembro de 2012, na EERP.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Drogas afastam do trabalho mais que álcool

Rede Bom Dia. Dados do governo federal revelam que o total de benefícios a usuários triplicou em sete anos. Uma assombrosa estatística do governo federal revela que o consumo de drogas no país cresce a cada ano e, hoje, cocaína e crack já afastam, em relação ao álcool, mais que o dobro de trabalhadores do mercado profissional. Em 2012, a quantidade de auxílios-doença concedidos a dependentes de drogas psicoativas, como cocaína e crack, cresceu 10,9% em relação a 2011, superando uma realidade que já ficou para trás, a de que a bebida alcoólica era o que mais prejudicava trabalhadores. Os dados foram passados pelo Ministério da Previdência Social e pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Nos últimos sete anos, o total de benefícios a usuários de drogas psicoativas mais que triplicou no Brasil. Se em 2006 eles somavam 9.730, em 2012 chegaram a 30.737. No mesmo período, a quantidade de dependentes de álcool afastados do emprego não sofreu grandes alterações e manteve-se em um patamar médio de 13.158. A primeira vez que a soma dos auxílios-doença a usuários de drogas psicoativas superou a de viciados em álcool foi em 2007, quando chegou a 16.351. Desde então, a diferença entre os dois só aumentou. Nos últimos sete anos, a quantidade de auxílios-doença concedidos a usuários de drogas em geral, como maconha, álcool, crack, cocaína e anfetaminas, passou dos 900 mil. Só em janeiro, o total de pedidos de auxílios-doença aceitos pelo governo federal para usuários de drogas como cocaína e crack chegou a 2.457, mais que o dobro dos autorizados aos viciados em álcool: 1.044. São pessoas como o advogado de São Paulo Maurício Bitencourte, de 40 anos. Em 2007, o profissional, pós-graduado em direito do trabalho, foi internado em uma clínica de reabilitação. Na época, misturava cocaína e maconha com bebidas alcoólicas. Em 2010, após mais duas internações, foi demitido e começou a consumir diariamente o crack, que era trocado por ternos, sapatos e um televisor. Mês passado ele e o irmão, ambos desempregados e viciados, conseguiram acesso ao auxílio-doença. Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Álcool na gravidez afeta a criança

O Dia Até o consumo leve de bebida pela gestante ataca o cérebro do filho e causa futura dificuldade de aprendizagem na escola O hábito de consumir bebida alcoólica na gravidez eleva o risco de problemas de concentração e dificuldade de aprendizado na criança em idade escolar. É o que indica pesquisa sobre o tema realizada na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP. De acordo com o estudo, feito pela psicóloga Luciana Inácia de Alcântara, crianças em idade escolar cujas mães relataram beber uma quantidade de três ou mais doses de álcool eventualmente (por cerca de 10 dias) durante toda a gestação tiveram uma pontuação média menor em testes de avaliação cognitiva. Os meninos também apresentaram alterações de comportamento, segundo Luciana. Para a pesquisa, Luciana entrevistou pais e cuidadores de 86 crianças entre 8 e 9 anos. O desenvolvimento cognitivo está relacionado à abstração, atenção, linguagem, função executiva, concentração, memorização e ao julgamento crítico. “Mesmo em uma amostra relativamente restrita de mães e crianças, e com dados por vezes conflitantes em relação ao consumo de álcool durante a gravidez referido pelas entrevistadas, foram observadas alterações cognitivas, inclusive quando o consumo de álcool era leve e moderado”, disse a pesquisadora à Agência USP. Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas (de 2005) apontam que 5,7% das mulheres consomem bebida alcoólica. Mas este índice pode ser maior. Um outro levantamento (de 2007) feito pelo grupo de pesquisa em Ribeirão Preto indica que 22% das mulheres bebem álcool na gravidez. O dano mais grave conhecido do consumo de bebida alcoólica na gestação é a Síndrome Fetal do Álcool, que se caracteriza por retardo no crescimento e problemas comportamental e cognitivo.

Álcool é responsável por 62% das internações por drogas

Além do dano social, a droga que mais gera custo, por internações, para a saúde pública não é a maconha, a cocaína ou o crack, mas um velho conhecido: o álcool. Nos 11 primeiros meses de 2012, mais de R$ 1,13 milhão saiu dos cofres públicos baianos para custear as internações por abuso do álcool, de acordo com o Datasus. O valor é R$ 375 mil a mais do que total gasto nas internações por todas as outras substâncias psicoativas que é de R$ 755 mil. Segundo a secretaria estadual de saúde, os casos de internações por álcool e drogas na Bahia se manteve estável nos últimos quatro anos - à exceção de uma queda apresentada em 2012. O dado disponível até novembro registra 1.897 internações, contra 2.500 em 2011. O abuso do álcool responde por 62% das hospitalizações por drogas nos últimos três anos. Somado às hospitalizações pelo uso de drogas múltiplas, respondem por quase 90% das internações por intoxicações no SUS. A proporção elevada, segundo especialistas, reflete o consumo habitual de substâncias etílicas. Mais da metade da população brasileira adulta(52%) consome bebidas alcoólicas, contra 3% dos usuários de maconha e 2% de cocaína, conforme indica levantamentos da Secretaria Nacional Antidrogas e o Nacional de Álcool e Drogas. Para o diretor do Centro de Informações Antiveneno(Ciave, centro de referência em toxicologia estadual), Daniel Rebouças, os números podem ser ainda maiores. "Os usuários só procuram atendimento médico quando algo "sai do normal". Normalmente, passa despercebido até nas unidades médicas", explica. Ele conta que, apesar do centro possuir um atendimento especializado em intoxicação, os casos de abuso de drogas que chegam são ínfimos: apenas 2,6% do total. "É somente a pontinha do iceberg", diz. Condutas - O fato do álcool ser uma droga lícita e socialmente estimulada agrava o quadro, segundo explica a psicóloga e socióloga Andrea Domanico. Segundo ela, há medidas simples que poderiam ser adotadas para evitar intoxicações, como alternar o uso com um copo de água, para evitar os danos causados pela desidratação da bebida. Outro problema são as associações. A mistura do álcool com a cocaína, por exemplo, produz o cocaetileno, substância com sintomas graves e pouco conhecidos. O professor Luís Rodrigues(nome fictício), 27 anos, começou a beber mais tarde do que o usual, aos 17 anos. Mas, mesmo virando dependente da maconha e da cocaína logo depois, considera o álcool o mais difícil de largar. "A bebida foi a substância que mais me fez fazer bobagem. É mais difícil de parar também, devido aos amigos", conta. Com ajuda dos Narcóticos Anônimos, ele consegue controlar a cocaína, "o mais prejudicial pelo domínio que exerce", segundo ele, mas a maconha não tem planos de deixar. "Gosto da sensação". Já o empreendedor Fábio Araújo, 30 anos, conseguiu superar todas as drogas e se mantém "limpo" há dois anos. A bebida entrou na sua vida aos poucos, ainda criança, mas foi apenas uma das drogas que rodearam sua juventude. A lista é grande: maconha, pílulas, cola, benzina, LSD, cocaína, pitiro (maconha com crack) e o próprio crack. "A cocaína era o que eu mais usava, pois combinava mais com o álcool. Dependendo da festa não tinha "discriminação", mas nunca faltava o principal: cigarro e cachaça", diz. Há quatro anos, ele resolveu parar. "Me sentia dominado por algo inferior a mim. Gostava de usar e não de ser usado", diz. Autor: Raíza Tourinho OBID Fonte: A Tarde