quarta-feira, 28 de julho de 2010

Crack, questão de saúde pública

O crack é de origem americana e iniciou-se nos anos 70 atingindo grande parte da população dos EUA e nos dias atuais é encontrado facilmente em nosso país.

O entorpecente é extraído da pasta de cocaína e posteriormente misturado com outras composições. A droga é sólida e geralmente é fumada, sua fumaça chega ao sistema nervoso central em dez segundos por ser absorvida de modo rápido pelos pulmões, entrando quase instantaneamente na corrente sanguínea e seu efeito dura de três a dez minutos.

No Brasil o aparecimento do crack é relativamente recente, surgindo após a Constituinte de 1988. Já no início da década de 90, quase 400 mil pessoas já haviam provado o entorpecente. Nos dias atuais é estimado que o número já tenha chegado a quase dois milhões de usuários. Decorrência do rápido crescimento, conhecedores do assunto entendem que o país vive uma calamidade, sendo caso de saúde pública. Afinal, os efeitos da droga arruínam a vida dos usuários e de seus familiares. Apesar de vários meios de comunicação divulgarem que é utilizado por jovens e crianças de rua, o crack já atingiu os lares das famílias de classes média e alta.

Em relação à saúde do usuário, a medicina reconhece que a utilização do crack promove mais de 50 problemas, que envolvem assustadoramente os sistemas circulatório, nervoso os pulmões e os rins. O entorpecente causa danos irreversíveis ao funcionamento dos neurônios, trazendo sérios obstáculos para capacidade de concentração e para cognição. Aumenta expressivamente a aceleração do coração, causando aumento de pressão arterial e arritmias. Em pouco tempo, o usuário do crack pode sofrer um infarto miocárdio e em alguns casos, mais graves, pode ocorrer parada cardíaca.

Diversas pesquisas são divulgadas sobre o assunto, mas o crack é o caos da vez para a saúde pública desse Brasil. Para se ter ideia, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo realizou recentemente pesquisa com 270 viciados, constatando que quase 50% dos usuários possuem parente ou amigo que morreram assassinados. Dentre os pesquisados, 87% já se envolveram em atos violentos e 62% participaram de furtos e roubos e 48% já foram presos. Todos descreveram possuir algum problema de saúde, sendo 92% de doenças respiratórias, 84% doenças cardiovasculares; 75% depressão e paranoias; 20% tentativas de suicídio e 65 déficit de memória.

Uma alternativa para amenizar a situação seria talvez ampliar a responsabilidade da Secretaria Nacional de Combate às Drogas (SENAD). Ainda com uma medida que reduziria o avanço do crack, não chegaríamos ao resultado necessário. O resultado eficaz seria fazer como o presidente americano Barack Obama, recuperar toda política de combate aos entorpecentes, incluindo a partir do tratamento do viciado como questão de saúde pública, obviamente acirrando a prevenção a uma robusta repressão.
Fonte:O Girassol/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

terça-feira, 6 de julho de 2010

Viciados que evitam situações de estresse têm mais recaídas

Saber lidar com dificuldades ajuda a criar forças para passar pela desintoxicação.

Viciados em recuperação que evitam lidar com estresse sucumbem facilmente à vontade de voltar a usar substâncias, tornando-se mais propensos às recaídas, segundo pesquisadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.

Os pesquisadores descobriram que as situações estressantes são um fator importante para saber como os viciados vão reagir, ou seja, se irão confrontá-las ou querer “fugir” por meio das drogas. Essa é a tese do professor de desenvolvimento humano Harrington Cleveland, da mesma universidade.

- Quando confrontados com o estresse, os viciados que têm mais habilidades adaptativas parecem ter mais chances de se recuperar.

Os pesquisadores acompanharam 55 estudantes universitários que estiveram em recuperação pelo uso de álcool, cocaína e drogas sintéticas. Eles foram questionados sobre sua vontade diária de álcool e outras drogas e a intensidade de experiências ruins do dia a dia, ou seja, momentos de hostilidade, falta de sensibilidade de outras pessoas e situações de “ridículo”, e como eles lidavam com isso.

- Nós percebemos que os dias em que os participantes sentiam mais fissura eram aqueles em que eles passavam por situações estressantes. Nós percebemos que os viciados que lidam com o estresse, evitando-o, tem duas vezes mais fissura em um dia estressante do que comparado as pessoas que usam estratégias para resolver os problemas e enfrentá-los.

Segundo Cleveland, a descoberta sugere que o impulso de evitar o estresse nunca vai ajudar os viciados em recuperação, porque as situações estressantes não podem ser evitadas.

- Se sua estratégica básica de vida é evitar o estresse, então seus problemas irão provavelmente se multiplicar e causar ainda mais problemas.
Fonte:R7/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Cigarro mata mais de 2600 fumantes passivos por ano no Brasil

Se antigamente fumar era charme, luxo, símbolo de satisfação e status social, de alguns anos para cá o ato é visto como algo que não é saudável, démodé e motivo de exclusão social.

Tanto que com o objetivo de chamar a atenção da população do mundo inteiro sobre os danos e efeitos mortais da epidemia do tabagismo, a Organização Mundial da Saúde, que desde 1992 encara o tabagismo como vício ou doença e não mais como “hábito”, instituiu o dia 31 de maio como o Dia Mundial Sem Tabaco.

Tudo isso porque atualmente há bastante esclarecimento e informação a respeito dos malefícios causados pelo cigarro, o que não permite com que as campanhas, que antes agregavam estrategicamente a ele valores positivos, tenham força e mascarem as verdades.

Afinal, é impossível sustentar a venda de um produto que, além de ser a causa de mais de 50 tipos de doenças (coronarianas, vasculares, enfisema, bronquite, problemas no sistema digestivo, impotência sexual e muitas outras), é também responsável por 200 mil mortes anualmente só no Brasil (23 falecimentos por hora) e ainda é prejudicial à saúde daqueles que convivem com o fumante ou dos que apenas estão próximos deles por um determinado período, já que 90% dos casos de câncer no pulmão estão diretamente ligados ao vício e 3,3% são relacionados aos fumantes passivos.

O vício não afeta só quem opta por fumar, as pessoas que estão expostas a fumaça acabam absorvendo a nicotina, o monóxido de carbono e várias outras substâncias que compõem o cigarro. “Os fumantes passivos sofrem imediatamente com os efeitos desses componentes tóxicos e são atingidos por irritações nos olhos e no nariz, dores de cabeça, tosse, alergias e dor no peito (angina). Com o tempo, essa exposição ao tabaco pode reduzir a capacidade funcional respiratória e aumentar as chances de desenvolver aterosclerose e problemas cardíacos”, afirma o médico pneumologista Paulo Salles do Hospital Bandeirantes, do Grupo Saúde Bandeirantes, de São Paulo.

Não é à toa que 2.655 fumantes passivos morrem anualmente das três principais doenças relacionadas ao fumo: enfarte, derrame e câncer de pulmão, gerando aos cofres públicos um gasto de pelo menos R$ 37 milhões. Desse valor, R$ 19,15 milhões são com tratamentos pagos pelo Sistema de Saúde; e R$ 18 milhões referem-se aos gastos da previdência social com o pagamento de pensões ou benefícios aos parentes das vítimas. Esses valores foram calculados pela pesquisa "Impacto do Custo de Doenças relacionadas com o tabagismo passivo no Brasil", estudo econômico encomendado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Quem pensa que o problema acaba por aí, engana-se. Segundo pesquisa finlandesa publicada no periódico "Circulation", crianças e adolescentes que convivem com fumantes já sofrem desde cedo com as conseqüências da fumaça. A situação faz com que os jovens filhos de fumantes tenham 7% a mais de predisposição para bronquite e aumenta em 48% o risco de desenvolverem otite (infecção no ouvido), além de terem suas artérias afetadas e apresentarem espessamento nas paredes dos vasos, de maneira que os que possuem mais cotinina (substância encontrada na saliva, através da qual se pode medir a quantidade de nicotina absorvida pelo fumante) no sangue têm as paredes das carótidas 7% e da aorta 8% mais espessas, em média, do que aquelas com níveis mais baixos da substância.

Além disso, os adolescentes com o nível mais alto de cotinina têm colesterol mais elevado e risco cardiovascular 15% maior do que o dos outros. “A fisiologia do jovem que está exposto à fumaça já está alterada, o que faz com que ela tenha grandes chances de desenvolver uma doença cardiovascular quando adulta”, diz Salles, que é membro das Sociedades Paulista e Brasileira de Pneumologia e Tisiologia.

Para de fumar hoje!
Cerca de 70% dos fumantes declaram ter vontade de parar de fumar. “Como outras coisas na vida, deixar de fumar é uma questão também de tentativa. Se não deu certo na primeira vez, basta tentar de novo, sem desanimar. Certamente na seguinte vai dar certo. Se o fumante não conseguiu cessar o tabagismo sozinho, aí estão os médicos, as clínicas, os serviços de doenças respiratórias, os hospitais e as equipes multidisciplinares para ajudar e orientar modos seguros de se obter sucesso. Basta procurar ajuda!”, finaliza o especialista.

SOBRE O GRUPO SAÚDE BANDEIRANTES:

Presente no setor de saúde desde 1975, o Grupo Saúde Bandeirantes é constituído pelos hospitais Bandeirantes e Glória, na Liberdade; Leforte, no Morumbi; e Lacan, para atendimento psiquiátrico, em São Bernardo do Campo. O Hospital Bandeirantes, primeiro da rede, é referência em atendimentos de alta complexidade, com know-how nas áreas de atenção cardiovascular, oncologia, transplantes e cirurgias especializadas.

Já o Leforte, em funcionamento desde o segundo semestre de 2009, se destaca no atendimento integral a pacientes adultos e pediátricos. Além disso, merecem destaque os programas e ações na área socioambiental, através do Instituto Saúde Bandeirantes de Responsabilidade Socioambiental, e o apoio ao ensino, pesquisa e extensão, por meio do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP-GSB).

Fonte:Saúde & Lazer/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Porres da elite

Folha de São Paulo - GILBERTO DIMENSTEIN

É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é o álcool
Um bar em São Paulo, próximo à PUC, decidiu cobrar bebida por hora: a pessoa paga uma quantia fixa e bebe o que quiser durante o tempo estipulado. Esse tipo de promoção ilustra uma informação revelada, na semana passada, por uma pesquisa da USP: 1 em cada 5 universitários brasileiros corre o risco de desenvolver dependência do álcool.
Esse dado surpreende a opinião pública, para quem, segundo recentes pesquisas, as drogas são objeto de crescente preocupação, mas o álcool não. Essas pesquisas refletem-se nas posições assumidas por Dilma Rousseff e José Serra, os principais candidatos à Presidência.
Dilma apresentou seu projeto contra o crack. José Serra arrumou uma briga com a Bolívia, acusando (e com certa razão, diga-se) suas autoridades policiais de conivência com o tráfico. Por tabela, o ataque bate em Lula, aliado de Evo Morales. É eleitoralmente compreensível, portanto, que o ex-governador, embora metido nas universidades nos anos 60 e 70, tenha dito que nunca sequer experimentou maconha.

É claro que as drogas merecem atenção, mas as pesquisas mostram que o grande problema é a bebida.
Neste ano, depois de descobrir que 30% dos estudantes das escolas particulares da cidade de São Paulo se tinham embebedado no mês anterior à pesquisa, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) decidiu estender o levantamento para todo o Brasil, incluindo também a rede pública. "Não tínhamos a menor ideia de que faríamos essa descoberta", conta a coordenadora da pesquisa, Ana Regina Noto, do Cebrid (Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas).

Os dados da Unesp e da USP ajudam a explicar a polêmica provocada na semana passada pela notícia de que a festa de formatura organizada por estudantes de uma tradicional escola paulistana ofereceria "open bar".
Segundo o trabalho da Unifesp, são os estudantes das escolas mais caras que revelam maior propensão a exagerar na bebida.
Temos, no Brasil, cerca de 50 milhões de jovens. Se 30% deles (15 milhões de pessoas) ficam "altos" pelo menos uma vez por mês, é fácil imaginar a dimensão dos riscos de acidentes, de prática de sexo inseguro ou da própria dependência.

Em São Paulo, a cada 39 minutos, o trânsito despeja uma pessoa no pronto-socorro do Hospital das Clínicas. Todos sabemos que boa parte dos acidentes está associada ao álcool. Mais graves ainda são os registros de atos de violência ligados à bebida.
Por falta de informação, a sociedade aceita muito mais um adolescente tomando um porre por mês do que fumando um "baseado". Toleram-se até mesmo as mensagens que glamorizam o álcool, a exemplo do que se fazia no passado, quando fumar era charmoso e sexy.
Cientificamente está provado que a maconha provoca muito menos danos do que o álcool, a principal causa de internação nos hospitais psiquiátricos. Nem a cocaína e o crack causam tantos danos. O crack, por exemplo, quase não aparece na pesquisa da Unifesp.
Pergunto: quantos bares são punidos por vender bebida a menores de 18 anos?
Não há solução simples. Além de fazer cumprir a lei que proíbe a venda de álcool a menores de 18 anos, é preciso alertar sobre os perigos do vício nas famílias, nas escolas e nos meios de comunicação.

O levantamento da Unifesp dá uma boa notícia: entre jovens, cai o consumo de tabaco. Isso é resultado de décadas de campanhas que associam o fumo não ao charme e à sensualidade, mas ao câncer e até à impotência sexual.
Cigarro não é igual a álcool. Beber moderadamente e com responsabilidade dá prazer e não prejudica a saúde. O desafio para os governos e para a sociedade, além da indústria da bebida e dos publicitários, é encontrar um meio de gerar essa atitude responsável.

Debater o tema nas eleições sem preconceitos e moralismos já seria um bom começo.
PS- A Unifesp vai ampliar a pesquisa para descobrir os fatores que previnem o abuso do álcool e das drogas. Já se sabe, porém, que é preciso ajudar os jovens a ter autoestima e projetos de vida. Respeitar-se, apostar no futuro e ter diálogo familiar são a chave para minimizar o problema. Esse estudo, especialmente as recomendações, é leitura obrigatória.