quarta-feira, 23 de junho de 2010

Recaída atinge até metade dos usuários de crack

Aos 13 anos, N.Z.R. teve sua primeira experiência com drogas. Com o tempo, ao primeiro cigarro de maconha foram se somando outras substâncias ilícitas, como a cocaína, sempre em um coquetel temperado por doses fartas de bebida alcoólica.

Aos 28, aceitou a oferta de um traficante que, na falta de erva, lhe apresentou o crack. “Depois disso, abandonei todas as outras drogas, inclusive o álcool. Só queria usar as pedras. Começava uma fase da minha vida em que fui eliminando todos os valores, começando por Deus, depois a família, até me desfazer dos bens materiais. Para comprar crack, vendia coisas que valiam R$ 300 por R$ 10”, conta N., relembrando o período mais tenebroso de sua vida.

Foi aos 36 anos, oito após fumar a primeira pedra de crack, que ele decidiu pedir ajuda. Pesava apenas 57 quilos, muito pouco para um homem de 1,80 metro de altura, e não tinha mais vontade de trabalhar. “A última coisa que fiz foi abandonar o emprego, porque precisava do dinheiro para comprar droga. Só que um dia depois do pagamento ou do adiantamento do salário, eu não aparecia no serviço, nem de dois a três dias após as grandes festas, como o carnaval. Chegou uma hora que não dei mais conta”, recorda. Quatro anos e meio depois de iniciar o tratamento para dependentes químicos, N., hoje com 40, recuperou a saúde – pesa atualmente 94 quilos – e a disposição para cuidar da mulher, dos quatro filhos e de dois netos.

Mas a história de queda e superação de N. não é regra. Especialistas apontam a altíssima reincidência no uso do crack como o maior desafio no tratamento dos dependentes, que já somam uma multidão estimada em 1,2 milhão de pessoas no Brasil. De acordo com o subsecretário de Estado de Políticas Antidrogas, Cloves Benevides, não há uma estimativa de viciados nesse tipo de droga em Minas, que conta com uma rede de assistência aos pacientes formada por mais de 200 instituições. “A recaída é fato e em lugar nenhum do país há números promissores no tratamento. Os serviços que apresentam os melhores resultados chegam a ter 50% de reincidência. A solução dos casos não pode ser esperada na sua totalidade, pois a característica da doença não é essa”, afirma Benevides.

Indicadores que apontam o avanço das pedras entre os viciados dão tons ainda mais sombrios ao fenômeno da recaída. Dos 1.117 pacientes atendidos no Centro Mineiro de Toxicomania (CMT) no ano passado, 39,21% eram viciados em crack, a droga que individualmente arrastou mais dependentes entre os atendidos na instituição. A diferença em relação a outras drogas ilícitas é gritante: os usuários de cocaína representam 11,73%, enquanto os de maconha somam 9,76%.

Entre os dependentes de crack que se tratam no CMT, 391 são homens e 58, mulheres. A maioria (294) tem de 25 a 40 anos, primeiro grau incompleto (178) e é solteira (295). “O perfil do atendimento neste ano não muda muito. Do total, 40% são casos de recaída e 60% buscam ajuda pela primeira vez. O esforço do dependente é essencial, pois não há tratamento no mundo que tire a vontade de usar droga. A substância age na parte do cérebro que comanda o prazer. Se for usado um remédio para tirar o prazer da droga, ele vai anular todos os outros prazeres, como o de trabalhar e até mesmo o sexual”, explica a terapeuta ocupacional Raquel Martins Pinheiro, especialista em toxicologia e diretora do CMT.

Fundada há 27 anos, a instituição foi o primeiro centro de atenção psicossocial (CAP) criado no país pelo Ministério da Saúde. Parte da rede da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), é a maior referência no estado no tratamento de dependência química.

Fissura

O psiquiatra Valdir Ribeiro Campos, especialista em dependência química e membro da Comissão de Controle do Tabagismo, Alcoolismo e Outras Drogas da Associação Médica de Minas Gerais, explica que o crack, feito da pasta-base de cocaína, leva de cinco a 10 segundos para atingir o sistema nervoso central e provocar o seu efeito alucinógeno, que dura no máximo cinco minutos. A cocaína inalada na forma de pó demora alguns minutos até chegar ao cérebro e tem efeito de até duas horas. “O efeito do crack no corpo é curto e a vontade de usar a droga de novo, o que chamamos de fissura, é rápida. Com isso, a dependência aparece em poucas semanas”, diz o psiquiatra. Ele ressalta que a possibilidade de recaída dos viciados em crack que se submetem a tratamento é maior nos três primeiros meses de abstinência (veja quadro na página 18).

Para não correr esse risco, N., que mora no Bairro Concórdia, na Região Nordeste de Belo Horizonte, procurou ajuda na comunidade terapêutica Terra da Sobriedade, em Venda Nova, uma das parceiras da Subsecretaria de Políticas Antidrogas. A terapeuta ocupacional Carolina Couto da Mata, coordenadora da instituição, diz que o índice de abandono no tratamento com dependentes de crack chega a 50%. “A alta toxidade do crack é um agravante para o vício. Dependentes constumam dizer que, se outras drogas os deixam a 60 por hora, ficam a 300 por hora quando fumam o crack”, compara.

N., que continua frequentando os grupos de ajuda mútua da Terra da Sobriedade, trocou a marica – como os usuários chamam o cachimbo usado para fumar crack – pelas palavras, dando palestras de prevenção ao uso de drogas. O trabalho que ele desenvolve de forma voluntária pode ser conferido no site (http://adicto.podomatic.com). “A recaída faz parte da doença e não do tratamento. Já sofri o bastante.”
Fonte:UAI/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Beber é fácil, mas a culpa é de quem?

Na semana passada, um estudo do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas, ligado à Unifesp, publicado na Folha, mostrou que um terço dos jovens das escolas particulares da cidade de São Paulo tomou um porre no mês anterior à pesquisa.

O resultado não chega a ser uma novidade, já que trabalhos anteriores mostraram dados semelhantes, mas indica, mais uma vez, a dificuldade do jovem em achar seu limite quando o assunto é o álcool.

Beber em excesso não acontece só em escolas particulares. Nas públicas, o fenômeno se repete.

A bebida é democrática. Quem tem dinheiro compra a mais cara, quem não tem se vira com o que consegue.

Bebe-se muito, e cedo. Quem você acha que tem mais dificuldade em controlar o quanto bebe: o adolescente ou o jovem mais maduro? Na média, quanto mais novo, maior a dificuldade de controle. Pressão e aceitação do grupo, autoestima e necessidade de afirmação ajudam a explicar o que acontece.

Mas quem é o responsável? Só o jovem mesmo?

Será que trabalhos de prevenção e de responsabilidade nas escolas resolveriam a questão? Pode ajudar, mas o processo é mais amplo!

Bebida no Brasil, acreditem, é barata. Em outros países há mais taxas sobre esse produto. Nas casas, bebe-se por qualquer razão: relaxar, confraternizar, afogar as mágoas, festejar. O que não faltam são motivos! Desde cedo a criança vê os pais bebendo e é convidada a participar da festa!

A TV tem uma enxurrada de propagandas: cervejas e bebidas "ice" já aparecem à tarde. Em tempos de Copa do Mundo, tente contar quantas vezes as bebidas vão aparecer na telinha.

Pode apostar, bem mais do que os gols que serão marcados pela nossa seleção. Para completar, comprar bebida não é complicado para os menores. De quem é a "culpa" mesmo?
Autor: Jairo Bouer - Folha de São Paulo
Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

49% dos universitários brasileiros já usaram drogas ilícitas, diz estudo 80% dos alunos de universidades menores de 18 já consumiram álcool.

Levantamento ouviu 18 mil jovens nas 27 capitais brasileiras

G1/GLOBO.COM

Quase metade (49%) dos universitários brasileiros já experimentou algum tipo de droga ilícita pelo menos uma vez na vida, segundo relatório do governo federal sobre o consumo de drogas, álcool e tabaco entre alunos de universidades brasileiras, divulgado nesta quarta-feira (23). O estudo também revela que, entre os jovens menores de 18 anos, 80% já consumiram bebidas alcoólicas.

O levantamento feito pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) ouviu 18 mil jovens matriculados no ano letivo de 2009 em 100 instituições de Ensino Superior, nas 27 capitais do país.


A pesquisa também revela que 86% dos universitários já consumiram álcool em algum momento da vida e 47% já utilizaram produtos derivados de tabaco. 36% já consumiram bebida em excesso (cinco doses ou mais dentro de duas horas para homens e quatro doses ou mais no mesmo período para mulheres) no último ano e 25% nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Além disso, 22% dos alunos de universidades estão sob risco de desenvolver dependência de álcool. 8% estão sob risco de desenvolver dependência de maconha.

Nos últimos doze meses, 40% dos universitários usaram duas ou mais drogas – 43% confessaram o uso múltiplo e simultâneo de drogas em algum momento da vida. O motivo para 47,8% é “porque gostavam”.

O levantamento traz também dados sobre o consumo de álcool na direção de veículos: 18% dos universitários já dirigiram sob efeito de bebidas alcoólicas e 27% já estiveram em um carro com um motorista embriagado.

O consumo de álcool é mais comum entre os estudantes de universidades do que entre a população em geral, segundo o estudo. O uso de drogas ilícitas é mais comum entre alunos com mais de 35 anos, das regiões Sul e Sudeste, de instituições privadas, da área de Humanas e do período noturno.

A pesquisa também mostrou que 9% dos universitários não costumam usar métodos anticoncepcionais, mas 41% deles já fizeram teste de detecção do vírus HIV – 3% afirmaram que já forçaram ou foram forçados a fazer sexo e 8% que já fizeram ou induziram aborto.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Abuso de drogas leva a disfunção sexual

Entre usuários de álcool, cocaína, crack e ecstasy, 47% têm ejaculação precoce, redução de libido e impotência

Alterações vasculares causadas por vícios dificultam a ereção; na população em geral, só 18% têm os problemas



Quase metade dos dependentes de álcool e outras drogas tem alguma disfunção sexual, mostra um estudo conduzido pela unidade de pesquisa em álcool e drogas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
O número encontrado, 47%, é bem maior do que o registrado na população em geral, que é de 18%, segundo o Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, que ouviu mais de 7.000 pessoas em 2004.
Os principais problemas levantados pelos autores foram ejaculação precoce (39%), diminuição do desejo sexual (19%), dificuldade de ereção (12%), retardo na ejaculação (8%) e dor durante a relação sexual (4%).
Quase a metade dos 215 entrevistados, com idade média de 35 anos, usava mais de um tipo de droga.
A ironia é que, em pequenas doses, drogas como o álcool e o cigarro aumentam o desejo sexual e a excitação.
Pesquisas sobre as expectativas dos usuários mostram que 50% dos homens e 40% das mulheres acham que essas substâncias melhoram o desempenho na cama.
Mas, depois, a situação se inverte: o uso frequente e abusivo começa a provocar alterações na função sexual.
"A longo prazo isso traz prejuízos importantes", diz a psiquiatra Camila Magalhães, do Hospital das Clínicas, de São Paulo, que coordena o centro de informações sobre saúde e álcool.

IMPOTÊNCIA
As drogas causam alterações em neurotransmissores, no cérebro, envolvidos no controle da ejaculação.
O álcool e a nicotina causam alterações vasculares que dificultam a ereção.
A cocaína e maconha, se usadas em altas doses, derrubam a libido. Também é esse o efeito de drogas sintéticas, como o ecstasy e o LSD.
No caso do álcool, o abuso é definido pelo consumo diário de mais de três doses, para homens, e mais de duas, para mulheres (o padrão de uma dose é uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma medida de destilado).
Mas o uso abusivo em situações esporádicas também é prejudicial, e o consumo de pequenas quantidades pode abrir caminho para excessos.
"No Brasil, há poucos estudos sobre disfunção sexual em dependentes químicos", afirma a psiquiatra Alessandra Diehl, uma das autoras da pesquisa. "Os números encontrados são similares aos relatados em estudos internacionais", diz.
Outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores foi o comportamento sexual de risco dos entrevistados.
Além de 41% não usarem preservativos nas relações sexuais, a média de parceiras foi de cinco ao ano -na população geral, esse número é 2,96, nos homens.
Essas pessoas ficam mais impulsivas e têm a capacidade de avaliar riscos reduzida.

GABRIELA CUPANI
DE SÃO PAULO