sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Apreensão de drogas sintéticas aumenta 515% em um ano

Em 2012, foram 2.063 Unidades recuperadas pela Polícia Civil; Um ano depois, foram 12,7 mil Super Notícia - Bernardo Miranda “Dá uma sensação enorme de felicidade”. Esse é o argumento de Manoela*, 17, que experimentou ecstasy e LSD pela primeira vez aos 16 anos, em uma boate da região Centro-Sul de Belo Horizonte e não parou mais. A história da adolescente é cada vez mais comum entre os jovens belo-horizontinos, principalmente aqueles das classes média e alta. No período de um ano, a apreensão de drogas sintéticas na região metropolitana aumentou 515%. A longa duração do efeito, o custo e a facilidade de usar a droga sem levantar suspeita são os principais motivos para o aumento do consumo. Entre maio de 2011 e abril de 2012, foram 2.063 unidades apreendidas na região metropolitana pela Polícia Civil, enquanto no mesmo período entre 2012 e 2013, esse número passou para 12.700. Os policiais explicam que a venda disseminada entre “amigos”, sem concentração de grandes quantidades do produtos em “bocas de fumo” em favelas, como acontece com o crack, por exemplo, dificulta a fiscalização. É o caso de Manoela. Ela estuda em uma escola particular da região Centro-Sul da capital e conta que vários amigos usam a droga e são os próprios colegas os fornecedores. “Qualquer balada tem um conhecido que vende”, garante a garota. O delegado chefe da Delegacia Especializada de Repressão Antidrogas da Polícia Civil de Minas Gerais, Márcio Lobato, explica que o tráfico entre amigos é muito disseminado. “Eles começam como usuários e em pouco tempo estão traficando. Porém, eles não têm noção da gravidade do que estão fazendo. Só quando são pegos e presos por tráfico é que a ficha cai”, explica. João*, 34, começou como usuário e traficou ecstasy até ficar preso por um ano e meio. “Só quando fui detido, em uma operação da Polícia Federal que percebi a gravidade do que estava fazendo, tanto nos danos que eu causava quanto nas leis que eu quebrava. Antes de ser preso, eu me achava muito diferente daquele traficante que vendia crack na boca de fumo”, conta o ex-presidiário. Ele alega que sempre teve amigos ricos e começou a vender para acompanhar o estilo de vida deles. Custo. O preço de uma unidade de ecstasy ou LSD varia entre R$ 40 e R$100, mas o efeito pode durar até 15 horas, outros dois atrativos para os jovens. Um usuário da capital conta que vale a pena pagar pela droga, “Sai mais barato usar (droga) que passar a noite bebendo em uma boate de Belo Horizonte, onde as bebidas são mais caras”, diz. * Nomes fictícios Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

O álcool na adolescência

Gazeta de Alagoas O mundo vai caminhando e por influência da mídia, das revistas, os jovens vão querendo se auto afirmar. E também por serem características próprias da idade. O cigarro e o álcool, apesar de todos os seus efeitos negativos, sempre foram usados como símbolo do machismo, de conquistas. As bebidas alcoólicas produzem no jovem dois efeitos, variáveis de acordo com a quantidade ingerida e as características pessoais: estimulante e depressor. Logo após a ingestão, causa euforias, desinibição, facilidade para falar, sensação de poder. Depois com a ingestão de mais álcool, manifesta-se o segundo efeito: falta de coordenação motora, descontrole, violência, sono, podendo até chegar ao estado de coma. Daí o volumoso número de acidentes de motos e carros nos fins de semana, causando mortes em muitas famílias. Os hospitais estão cheios de fraturados e sofredores que saíram dos seus limites, transformando suas vidas em um verdadeiro inferno e a de muita gente. O alcoolismo atinge, atualmente, de 5% a 10% da população brasileira adulta. Mas os índices de consumo mais preocupantes estão ligados ao público jovem. Os jovens brasileiros estão começando a beber cada vez mais cedo: abaixo dos 14 anos. Uma pesquisa recente da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) apostou que 5 de jovens entre 14 e 17 anos bebem uma vez por semana, consumindo cinco ou mais doses por vez; 24% bebem pelo menos uma vez por mês e 13% dos adolescentes brasileiros possuem um padrão intenso de consumo antes dos 18 anos. Os bares nos fins de semana de todas as cidades brasileiras estão sempre cheios de jovens adolescentes. O jovem que começa muitas vezes com um ‘cervejinha’ com os amigos, sem se aperceber, daqui a pouco está sendo objeto de uma dependência que irá preocupar. A adolescência é a antessala do amadurecimento, é o verdadeiro prefácio do livro da vida. É a fase de irreverência e do protesto. Cabe aos pais vigiá-los, orientá-los através do diálogo para que não se percam. Assim, está na hora da família olhar esse problema. de frente. O dia a dia está banalizado e tudo gera violência. A naturalidade com que muitos pais olham seu filho bebendo sem controle e acham graça, permite que ele assim o faça tendo o aval dos pais. O Brasil de hoje está difícil de ser corrigido. Temos que ter uma geração com um sentido de vida, de ética, de sensibilidade para que possamos viver no futuro com paz e progresso. Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Álcool e crack correspondem a 80% das internações de adolescentes

Diário do Vale Responsáveis por programas de acompanhamento de adolescentes dependentes químicos de Volta Redonda afirmam que o consumo de álcool e crack correspondem hoje a 80% dos casos de internação no município. Responsável pela coordenação do Gaia (Grupo de Atendimento Integral do Adolescente), Roberto Carlos da Silva, afirmou ainda que o desejo dos adolescentes e até das crianças em experimentar substâncias químicas está sendo despertado cada vez mais cedo. - Nos últimos dois anos, muitos adolescentes passaram a consumir todos os tipos de drogas e aumentaram a incidência de internações na unidade que, de 56 casos aumentou para 72 - disse Roberto, acrescentando que o álcool, que normalmente começa a ser consumido no âmbito familiar vem em primeiro lugar, com 40 internações, seguido do crack, com 32 internações. Ainda de acordo com Roberto, o vício em álcool pode ser classificado como um reflexo do espelho familiar, visto que muitos adolescentes no momento da internação sempre confessam que começaram a beber seguindo o exemplo de pais e responsáveis. - A maioria dos casos de internações em decorrência do álcool vem de históricos onde o consumo teve início dentro de casa, com a autorização dos responsáveis. Involuntariamente nas festas de família ou nos fins de semana, eles oferecem e incentivam o primeiro ´gole` da bebida. Hoje temos registros em que adolescentes experimentaram bebidas alcoólicas pela primeira vez aos dez anos - revelou. O coordenador reforçou que para combater os crescentes números de casos de drogas licitas e, principalmente, ilícitas, os métodos de atendimento de adolescentes foram divididos em dois sistemas. - A dependência química é uma doença, que deve ser tratada com extremo cuidado e para que o tratamento aconteça da maneira correta estamos trabalhando com o antigo sistema do atendimento de convivência dia, de 8 às 17 horas, onde os jovens podem voltar diariamente para suas casas. Também trabalhamos com o sistema de internação por um período de três meses. Este método só é aplicado em casos extremos - informou, explicando que o local possui espaço para 20 internações, sendo que atualmente dez adolescentes estão internados. Programa ´Consultório de Rua` Em funcionamento há cerca de quatro meses, a Coordenadoria Municipal de Prevenção às Drogas vem realizando um estudo para definir a situação do consumo de drogas na cidade. De acordo com a coordenadora do órgão, Neuza Jordão, desde que o setor foi criado estão sendo realizadas constantes reuniões com todos os segmentos da sociedade - entre eles, todos os órgãos de segurança. - Através de nossas reuniões e da discussão de ideias, estamos criando ferramentas para que o combate ao consumo de drogas lícitas, em especial o crack, que apresentou um aumento de 30% no último trimestre, diminua e tenha um tratamento de impacto em nossa cidade- ressaltou. Sobre as ações preventivas de combate, a coordenadora destacou o programa "Consultório de Rua", ação que consiste em criar uma abordagem direta para todos os usuários de drogas. Em especial os que estão em situação de rua. - Em todas as internações compulsórias, o indivíduo é tratado como se ele fosse um todo, quando na realidade a verdadeira intenção do tratamento, deveria ser ao contrario e ele ser tratado como uma pessoa única. Esta é a visão de tratamento, que será utilizada em nosso programa no momento em que ele for implantado - destacou. Neuza enfatizou ainda que os trabalhos vão depender do resultado de parcerias estratégicas, que já estão sendo desenvolvidas com conselhos, ONGs e toda a comunidade. - Para que nosso trabalho renda frutos e tenha a visibilidade necessária, estamos desenvolvendo cursos, congressos e seminários. O combate à dependência química é uma área de atualização constante - informou. Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Jovens mais inteligentes têm mais chances de usar drogas. Por quê?

Pesquisa revela que jovens com Q.I. mais alto têm maior probabilidade de fazer uso de substâncias ilícitas - entenda Galileu - por Ana Freitas Cientistas de três universidades no Reino Unido publicaram uma pesquisa que mostra a relação entre crianças inteligentes e o uso de drogas no futuro. O mais curioso: de acordo com eles, quanto maior o Q.I., maior a chance de que a pessoa acabe experimentando alguma droga. Outra pesquisa, indicando a mesma relação, já foi publicada em 2011. Para chegar a essa conclusão, eles usaram dados de 1958 de um estudo nacional sobre o desenvolvimento de crianças nos EUA e aí entrevistaram mais de 17 mil pessoas, então adultos, comparando o uso de drogas e o Q.I. registrado na ocasião. O resultado: crianças com o Q.I. mais alto tiveram maior incidência de uso de drogas anos mais tarde. Levando em conta os dois estudos, cientistas têm hipóteses diferentes para os motivos que levam crianças e jovens mais inteligentes ao uso de drogas. Veja algumas delas: 1. James White, um dos cientistas do estudo publicado em 2011, acredita que jovens mais inteligentes tomem suas decisões mais baseadas em evidências e fatos. Como são escassos os estudos que provem a existência de efeitos nocivos devido ao uso ocasional de drogas, eles se sentem confortáveis para usá-las. Numa entrevista para a revista TIME, James White usa a maconha como exemplo para essa tese. 2. O psicólogo evolucionista Satoshi Kanazawa diz que crianças e jovens mais inteligentes têm mais chances de usar drogas porque, para ele, o cérebro tem dificuldade de lidar com situações que não existiam na vivência ancestral do ser humano e ele acredita que pessoas inteligentes estariam mais propensas a superar ambientes diferentes justamente pela capacidade de interagir com coisas novas. Ele baseia essa crença no Princípio da Savana, que acreditar que nosso cérebro só se sente confortável em situações análogas às vividas pelos nossos ancestrais na Savana. 3. A outra hipótese é que crianças e jovens mais inteligentes acabam sofrendo mais com o isolamento social e ficam entediados mais facilmente. Isso os leva às drogas. Fonte:UNIAD - Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas

Estudo mostra que cocaína muda estrutura do cérebro em duas horas

Uma pesquisa feita por cientistas nos Estados Unidos revelou que consumir cocaína pode mudar a estrutura do cérebro em poucas horas. Os estudiosos da Universidade da Califórnia fizeram experimentos com camundongos, que receberam injeções com a droga. Eles constataram que, apenas duas horas após receber a primeira dose, as cobaias já haviam desenvolvido no cérebro novas estruturas que são ligadas à memória, ao uso de drogas e a mudanças de comportamento. Os camundongos que tiveram as maiores alterações no cérebro revelaram ter uma dependência mais elevada de cocaína, mostrando que, segundo especialistas, o cérebro deles estava "aprendendo a ser dependente químico". Caçador de cocaína Os cientistas investigaram nas cobaias o surgimento de pequenas estruturas nas células do cérebro chamadas espinhas dendríticas, que têm relação profunda com a formação das memórias. Um microscópio a laser foi usado para olhar dentro do cérebro dos camundongos, ainda vivos, para procurar por espinhas dendríticas após eles receberem doses de cocaína. A mesma análise foi feita em camundongos que, em vez de injeções com cocaína, receberam injeções com água. O grupo que recebeu cocaína apresentou uma maior formação de espinhas dendríticas, o que indica que mais memórias, relacionadas ao uso da droga, foram formadas. A pesquisadora Linda Wilbrecht, professora assistente de psicologia e neurociência da Universidade da Califórnia na cidade de Berkeley, disse: "Nossas imagens fornecem sinais claros de que a cocaína induz ganhos rápidos de novas espinhas, e quanto mais espinhas os camundongos ganham, mais eles mostram que "aprenderam" sobre a droga". "Isso nos mostra um possível mecanismo ligando o consumo de drogas à busca por mais drogas. Essas mudanças provocadas pela droga no cérebro podem explicar como sinais relacionados à droga dominam o processo de tomada de decisões em um usuário humano", explicou a pesquisadora. O pesquisador Gerome Breen, do Instituto de Psiquiatria do Kings College de Londres, ressaltou que "o desenvolvimento da espinhas dendríticas é particularmente importante no aprendizado e na memória". "Este estudo nos dá um entendimento sólido de como a dependência ocorre - ele mostra como a dependência é aprendida pelo cérebro", finalizou. Autor: OBID Fonte: BBC BRASIL

Drogas x esporte: a maconha causa picos de pressão e riscos cardíacos

Globo Esporte Análises estatísticas mostram que o risco de infarto agudo do miocárdio aumenta 4,8 vezes nos primeiros 60 minutos após o uso de maconha Em meio ao alvoroço provocado pelo tema cerveja e coração, alguns comentários recebidos questionavam o consumo das drogas ilícitas, em especial a maconha e a cocaína. Neste artigo falarei da maconha e no próximo da cocaína. Primeiramente me surpreende a postura de alguns políticos em não considerar a maconha como perigosa para a saúde. Só posso pensar que são movidos por ignorância cientifica! Quanto ao aspecto policial-econômico não iremos abordá-lo neste artigo. Segundo a medicina, essas drogas são alucinógenas, causam dependência e graves sequelas aos seus usuários. Os aspectos ditos "medicinais" atualmente são bem delimitados, apenas para certas doenças graves, incapacitantes e incuráveis, onde seus efeitos psiquiátricos, entre outros, servem para “anestesiar o sofrimento”. Não é um produto medicinal de uso generalizado, até onde chegaram as inúmeras pesquisas sérias. Os efeitos cardiovasculares são bem descritos na literatura médica e um artigo de forte impacto científico nos chama a atenção: “Infarto do Miocárdio desencadeado pela maconha” (Triggering Myocardial Infarction by Marijuana) do respeitado autor Mittleman MA, e colaboradores, na revista de maior importância na cardiologia mundial (Circulation - Vol: 103 - Págs: 2805-2809; 2001). O princípio ativo da maconha é o THC, que fica depositado nas células gordurosas do corpo. Seus efeitos duradouros aumentam com o incremento das doses, e os principais sintomas são: 1) Taquicardia paroxística em repouso, ou seja, importante elevação da frequência cardíaca (pulsação) que pode atingir o dobro da habitual em repouso. E não estou falando em “overdose”. 2) Extrassístoles ventriculares e supraventriculares são muito frequentes e surgem em geral, após aproximadamente 20 minutos do inicio de seu consumo. 3) Súbita e importante elevação da pressão arterial (alcança rapidamente 200 x 110 mm Hg) na posição deitada, queda da pressão se ficar de pé, provocando o que chamamos de síncope cardiogênica. 4) Aumento da absorção de monóxido de carbono, que provoca dificuldades respiratórias graves e redução do transporte de oxigênio para o coração. 5) Prejudica a atividade física de modo irreparável por alguns dias, tanto na resistência como na técnica da modalidade esportiva, até no simples caminhar. Com base nas análises estatísticas observou-se um risco de infarto agudo do miocárdio 4,8 vezes maior nos primeiros 60 minutos após o uso da maconha comparando com os períodos de não uso. Ainda outros estudos, encontraram lesões de fibrose no miocárdio pela ressonância magnética do coração, os temidos focos de arritmias cardíacas complexas e graves, complicações diferentes do infarto do miocárdio. Todos os efeitos se repetem, em grau ainda m ais avançado, em usuários do Skank, espécie de maconha com altíssimo teor de THC. Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Estudo revela que maconha é a droga mais usada e heroína, a mais perigosa

A maconha é a droga mais usada no mundo; a heroína, a que causa mais mortes; e as anfetaminas, as que provocam maior dependência, revelou um estudo científico. Esta "primeira análise da preponderância mundial" sobre as quatro grandes categorias de drogas ilegais, anfetaminas, maconha e opiáceos (heroína), confirma que a dependência em heroína é a que traz consequências mais sérias para a saúde em escala mundial. Das 78.000 mortes atribuíveis diretamente às drogas no ano de 2010, mais da metade (55%, ou seja, 43.000) está relacionada aos opiáceos, segundo estudo publicado na edição desta quinta-feira (29) da revista médica britânica The Lancet. A dependência de drogas injetáveis como a heroína constitui, ainda, um fator muito importante de exposição e de infecção aos vírus da Aids e da hepatite, destacou o documento. Globalmente, os opiáceos são os que mais causam danos à saúde humana, uma situação que "poderia ser evitada multiplicando os programas de distribuição de agulhas e seringas, os tratamentos de substituição de opiáceos e os tratamentos antirretrovirais", explicou o estudo, realizado por uma equipe australiana e americana. Embora seja o entorpecente de maior consumo no mundo, a maconha tem um impacto muito menor sobre a saúde, particularmente porque a dependência é menor, com 13 milhões de pessoas dependentes contra os 17,2 milhões de dependentes em anfetaminas e 15,5 milhões em opiáceos. As consequências sanitárias da cocaína também são limitadas em escala mundial em comparação com a heroína, embora o estudo dê conta de níveis de dependência mais elevados para esta droga na América Latina e do Norte. Globalmente, as consequências de saúde causadas pelas quatro grandes drogas estudadas aumentaram 50% no mundo entre 1990 e 2010, particularmente a partir da alta do número de consumidores. Mas as consequências sanitárias dessas drogas são muito inferiores às do tabagismo e do álcool, destacou o estudo. Cigarro e álcool são "responsáveis em conjunto por quase 10% da mortalidade total" contra 1% das drogas. É preciso levar em conta que o número de pessoas dependentes de drogas é muito inferior do que as dependentes de álcool e tabaco. "É evidente que a utilização de drogas ilegais provoca relativamente mais danos em nível individual", diz o estudo realizado pela equipe chefiada pela australiana Louisa Degenhardt (Universidade de Nova Gales do Sul).

Crack e cocaína avançam entre as mulheres em São Paulo, diz estudo da USP

Nos últimos quatro anos, mudou o perfil das mulheres dependentes químicas, que procuram tratamento no ambulatório do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Se antes as mulheres que procuravam tratamento no Programa da Mulher Dependente Química (Promud) eram em maior número de dependentes de álcool, hoje a maioria é de mulheres dependentes em drogas ilícitas. Entre 1996, quando o Promud começou a funcionar, até 2008, 60% dos casos atendidos no programa correspondiam a mulheres alcoólatras e 40% eram dependentes de drogas. No entanto, a partir de 2009, o número foi invertido: 60% dos casos passaram a representar mulheres dependentes de cocaína e crack e o alcoolismo passou a somar 40% dos atendimentos. O estudo, que está em andamento e deverá ser divulgado em outubro, durante o Congresso Brasileiro de Psiquiatria, em Curitiba, mostra que houve mudança na faixa etária das mulheres que buscam tratamento, com aumento de dependência das mulheres acima de 30 anos, o que era raro. "O que temos percebido nos últimos quatro anos é uma mudança no perfil das mulheres. Quando começamos no Promud, as pacientes eram 60% dependentes de álcool e mais velhas, entre 40 anos e 50 anos, e as demais 40% eram muito mais jovens, em torno de 20 anos, dependentes de cocaína. Nos últimos anos, mais de 50% das mulheres que chegaram [no Promud] têm acima dos 30 anos", disse Patricia Hochgraf, médica-assistente e coordenadora do Promud. Segundo Patricia, o Promud não tem respostas sobre o que provocou a mudança. "Temos algumas hipóteses. Observamos que aumentou muito a oferta de droga. É mais fácil achar crack. Quase todas as mulheres começam a usar crack e cocaína com o companheiro, seja marido ou namorado. São mulheres que nem usavam drogas antes, o que chama muito a atenção", disse ela. Patricia ressaltou que muitas mulheres usam crack ou cocaína pensando, por exemplo, que vão emagrecer. De acordo com Silvia Brasiliano, psicóloga, e também coordenadora do Promud, 70% das pacientes que procuram o tratamento no Promud o fazem por pressão dos filhos. O tratamento contra a dependência, segundo Silvia, deve ser procurado o mais rapidamente possível, principalmente no caso de dependência por crack. "O crack é uma droga que tem grande poder de causar dependência. É o tipo de droga em que se deveria procurar tratamento até uma semana depois", disse.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

DEPENDÊNCIA QUÍMICA

http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/dependencia-quimica/ Ronaldo Laranjeira é médico psiquiatra, coordena a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas na Faculdade de Medicina da UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo) e é PhD em Dependência Química na Inglaterra. As drogas acionam o sistema de recompensa do cérebro, uma área encarregada de receber estímulos de prazer e transmitir essa sensação para o corpo todo. Isso vale para todos os tipos de prazer – temperatura agradável, emoção gratificante, alimentação, sexo – e desempenha função importante para a preservação da espécie. Evolutivamente o homem criou essa área de recompensa e é nela que as drogas interferem. Por uma espécie de curto circuito, elas provocam uma ilusão química de prazer que induz a pessoa a repetir seu uso compulsivamente. Com a repetição do consumo, perdem o significado todas as fontes naturais de prazer e só interessa aquele imediato propiciado pela droga, mesmo que isso comprometa e ameace a vida do usuário. MECANISMO GERAL DA DEPENDÊNCIA Drauzio – Que mecanismo do corpo humano explica o processo de dependência da droga? Ronaldo Laranjeira – Acho importante destacar que existe, no cérebro, uma área responsável pelo prazer. O prazer, que sentimos ao comer, fazer sexo ou ao expor o corpo ao calor do sol, é integrado numa área cerebral chamada sistema de recompensa. Esse sistema foi relevante para a sobrevivência da espécie. Quando os animais sentiam prazer na atividade sexual, a tendência era repeti-la. Estar abrigado do frio não só dava prazer, mas também protegia a espécie. Desse modo, evolutivamente, criamos essa área de recompensa e é nela que a ação química de diversas drogas interfere. Apesar de cada uma possuir mecanismo de ação e efeitos diferentes, a proposta final é a mesma, não importa se tenha vindo do cigarro, álcool, maconha, cocaína ou heroína. Por isso, só produzem dependência as drogas que de algum modo atuam nessa área. O LSD, por exemplo, embora tenha uma ação perturbadora no sistema nervoso central e altere a forma como a pessoa vê, ouve e sente, não dá prazer e, portanto, não cria dependência. Vários são os motivos que levam à dependência química, mas o final é sempre o mesmo. De alguma maneira, as drogas pervertem o sistema de recompensa. A pessoa passa a dar-lhes preferência quase absoluta, mesmo que isso atrapalhe todo o resto em sua vida. Para quem está de fora fica difícil entender por que o usuário de cocaína ou de crack, com a saúde deteriorada, não abandona a droga. Tal comportamento reflete uma disfunção do cérebro. A atenção do dependente se volta para o prazer imediato propiciado pelo uso da droga, fazendo com que percam significado todas as outras fontes de prazer. Drauzio – Você diz que a evolução criou, no cérebro, um centro de recompensa ligado diretamente à sobrevivência da espécie. As abelhas, quando pousam numa flor e encontram néctar, liberam um mediador chamado octopamina, neurotransmissor presente nas sensações de prazer. Esses mecanismos são bastante arcaicos? Ronaldo Laranjeira – O sistema de prazer é muito primitivo. É importante para as abelhas e para os seres humanos também. A droga produz efeito tão intenso porque age nesses mecanismos biológicos bastante primitivos. Drauzio – Mecanismos tão arcaicos assim representam uma armadilha poderosa. Na verdade, provoca-se um estímulo forte que está mexendo com milhares de anos de evolução. Ronaldo Laranjeira – Acho que estamos cada vez mais valorizando esse tipo de mecanismo. A droga é um fenômeno psicossocial amplo, mas que acaba interferindo nesse mecanismo biológico primitivo. DEPENDÊNCIA É UM PROCESSO DE APRENDIZADO Drauzio – A maioria das pessoas bebe com moderação, mas algumas fazem uso abusivo do álcool. Há quem fume maconha ou use cocaína esporadicamente, mas existem os que fumam crack o dia inteiro. O que explica essa diferença? A resposta está na droga ou no usuário? Ronaldo Laranjeira – Parte da resposta está na tendência ao uso crônico e na história de cada pessoa. Quando começou a usar? Como interpreta os sintomas da síndrome de abstinência? Além disso, o que vai fazer com que repita a experiência não é só a busca do prazer, mas a tentativa de evitar o desprazer que a ausência da droga produz. A dependência é um processo de aprendizado. O fumante, por exemplo, pela manhã já manifesta sintomas da abstinência. Fica irritado e sua capacidade de concentração baixa. Ele fuma, o desconforto diminui. Vinte minutos depois, o nível de nicotina no cérebro cai, voltam os sintomas da abstinência e ele vai aprendendo a usar a droga pelo efeito agradável que proporciona e para evitar o desprazer que sua falta produz. A dependência é fruto, então, do mecanismo psicológico que a um só tempo induz o indivíduo a buscar o prazer e evitar o desprazer, e fruto das alterações cerebrais que a droga provoca. Essa interação entre aspectos psicológicos e efeito farmacológico vai determinar o perfil dos sintomas de abstinência de cada pessoa. A compulsão é menor naquelas que toleram a abstinência um pouco mais, e maior nas que a inquietação é intensa diante do menor sinal da síndrome de abstinência. Resumindo: a dependência química pressupõe o mecanismo psicológico de buscar a droga e a necessidade biológica que se criou no organismo. Disso resulta a diversidade de comportamentos dos usuários. A maconha é um bom exemplo. Seu uso compulsivo hoje é maior do que era há 20, 30 anos e, de acordo com as evidências, quanto mais cedo o indivíduo começa a usá-la, maior é a possibilidade de tornar-se dependente. Como garotos de 12, 13 anos e, às vezes, até mais novos, estão usando maconha, atualmente o problema se agrava. Além disso, as concentrações de THC (princípio ativo da maconha) aumentaram muito nos últimos tempos. Na década de 1960, andavam por volta de 0,5% e agora alcançam 5%. Portanto, a maconha de hoje é 10 vezes mais potente do que era naquela época. Diante disso, a Escola Paulista de Medicina sentiu a necessidade de montar um ambulatório só para atender os usuários de maconha e há uma lista de espera composta por adolescentes e jovens adultos desmotivados, que fumam seis, sete baseados por dia e não conseguem fazer outra coisa na vida. Isso não acontecia quando a concentração de THC era mais fraca e o acesso à droga mais restrito. Drauzio - Quando se conversa com usuários de maconha de muitos anos, eles lastimam que a droga tenha perdido a qualidade. Sua explicação prova exatamente o contrário. Terão essas pessoas desenvolvido um grau de tolerância maior à droga? Ronaldo Laranjeira - Acho que a queixa é fruto de um certo saudosismo, uma vez que há tipos de maconha, entre eles o skank, que chegam a ter 20% de THC. Na Holanda, foram desenvolvidas cepas que contêm maior concentração desse princípio ativo, o que faz com que a maconha perca a classificação de droga leve e se transforme numa substância poderosa para causar dependência. Deve-se considerar, ainda, como justificativa da queixa que o uso crônico causa sempre certa tolerância. Drauzio - No Carandiru, minha experiência mostra que há quem fume um baseado a cada 30 minutos. Uma droga que exija tal frequência de consumo não pode ser considerada leve, não é verdade? Ronaldo Laranjeira – Infelizmente não existem drogas leves, se produzirem estímulo no sistema de recompensa cerebral. Em geral, as pessoas perguntam: mas se a droga dá prazer, qual é o problema? O problema é que ela não mexe apenas na área do prazer. Mexe também em outras áreas e o cérebro fica alterado. Diante de uma fonte artificial de prazer, ele reage de modo impróprio. Se existe a possibilidade de prazer imediato, por que investir em outro que demande maior esforço e empenho? A droga perverte o repertório de busca de prazer e empobrece a pessoa. Comer, conversar, estabelecer relacionamentos afetivos, trabalhar são fontes de prazer que valorizamos, mas não são imediatas. CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DOS USUÁRIOS Drauzio – O uso crônico do álcool provoca uma série de alterações que todo mundo conhece e reconhece. Em relação às outras drogas, de acordo com sua experiência pessoal e não com as definições dos livros, quais as principais características do usuário? Ronaldo Laranjeira – No ambulatório da Escola Paulista de Medicina que atende usuários de maconha, pude notar que há dois grupos distintos. Um é constituído por jovens que perderam o interesse por tudo o que faziam. Não estudam nem trabalham. Estão completamente desmotivados. É o que chamamos de síndrome amotivacional. O nome é feio, mas pertinente. O outro grupo é formado por pessoas nas quais se estabelece uma relação complexa entre maconha e doenças mentais como psicose e depressão. Não se sabe se a maconha produz a doença mental. O que se sabe é que ela piora os sintomas de qualquer uma delas, seja ansiedade ou esquizofrenia. AÇÃO E EFEITO DAS DIFERENTES DROGAS Drauzio -Teoricamente, quando a pessoa ansiosa fuma maconha, fica mais relaxada. Você acha que isso é um mito? Ronaldo Laranjeira – É importante distinguir, na droga, o efeito imediato do efeito cumulativo. No geral, sob a ação da maconha, a pessoa ansiosa relaxa um pouco, mas esse é um efeito de curto prazo. O álcool também relaxa num primeiro momento. No entanto, as evidências demonstram que nas pessoas ansiosas seu uso crônico aumenta os níveis de ansiedade, porque o cérebro reage tentando manter o sistema em equilíbrio. É o efeito de homeóstase. Se alguém usa um estimulante, passado o efeito, o cérebro não volta ao funcionamento normal imediatamente. Surge o efeito rebote. Isso ocorre com qualquer droga. Tanto com a maconha quanto com o álcool, findo o efeito depressor, o efeito rebote elevará os níveis de ansiedade. Drauzio – Como age a maconha na memória? Ronaldo Laranjeira - A maconha diminui a concentração, a memória e a atenção. É um efeito bastante rápido. Estudos mostram que, se alguém usar maconha num dia e medir os níveis de memória e concentração no outro, eles estarão ligeiramente alterados. Isso tem um impacto bastante negativo na vida dos adolescentes. Na verdade, não há droga que melhore o desempenho intelectual. Nós sabemos que pessoas criativas usam drogas e produzem coisas criativas. Se elas não fossem criativas por natureza, não haveria droga no mundo capaz de produzir esse resultado. Drauzio - Quais são os efeitos crônicos da cocaína? Ronaldo Laranjeira – Em relação à saúde, o efeito mais grave da cocaína são os problemas cardíacos e cardiovasculares. Quando associada ao álcool, então, ela é uma das principais causas de infarto do miocárdio em adultos jovens. ASSOCIAÇÃO PERIGOSA DA COCAÍNA COM O ÁLCOOL Drauzio – Por que o usuário de cocaína bebe tanto? Ronaldo Laranjeira – De alguma forma, o álcool faz com que a pessoa se sinta mais liberada e use cocaína, um estimulante potente. Para diminuir a excitação, ela torna a beber e, como num círculo vicioso, a usar cocaína. A confusão cerebral aumenta consideravelmente e a tendência é beber ou cheirar mais. Trata-se de uma reação perturbadora em que o álcool incentiva o consumo de cocaína e vice-versa. Drauzio – Fico assustado com a quantidade de bebida destilada que o usuário de cocaína consome. Ronaldo Laranjeira – A cocaína aumenta a resistência ao álcool, porque um pouco de seu efeito depressor é atenuado pela cocaína. Por outro lado, a pessoa tolera quantidades maiores de álcool, porque precisa abrandar os efeitos altamente excitantes da cocaína. Sempre é válido repetir que álcool e cocaína representam uma das associações de drogas mais perigosas que existem. Ao que parece, tal associação dá origem a uma terceira molécula extremamente tóxica para cérebro e para o músculo cardíaco. Drauzio – No Carandiru, vi meninos de 20 e poucos anos com infarto do miocárdio ou derrame cerebral puxando o braço ou a perna depois de uma seção de crack ou de uma overdose de cocaína. Isso acontece frequentemente? Ronaldo Laranjeira – Infelizmente, no Brasil, não há dados precisos sobre o que aconteceu com os usuários de cocaína, porque o sistema médico não é muito coordenado. Se eles existissem, ficaríamos horrorizados. Tivemos uma pequena experiência acompanhando, por cinco anos, o primeiro grupo de usuários de crack que foi internado em Cidade de Taipas, interior de São Paulo. Era uma população de classe média baixa. No final desse período, 30% tinham morrido em acidentes ou por morte violenta. Nesse caso, as famílias não sabiam dizer quem eram os responsáveis pelas mortes: os traficantes ou a polícia. Não sabemos se isso ocorre com todos os usuários de crack. Temos certeza, porém, de que poucas doenças apresentam esse índice de mortalidade. SÍNDROME DE ABSTINÊNCIA / EFEITO Rebote Drauzio – Como se manifesta o efeito rebote? Ronaldo Laranjeira – O mecanismo de recompensa cerebral é importante para a preservação da espécie e ninguém é contra o prazer. Ao contrário, deveríamos estimular o surgimento de inúmeras fontes de prazer. A dependência química, entretanto, cria uma ilusão de prazer que acaba perturbando outros mecanismos cerebrais. Se, fumando um baseado, a pessoa relaxa, findo o efeito, a ansiedade ganha força, pois a síndrome de abstinência é imediata. É o chamado efeito rebote. A cocaína age de forma diferente. O efeito rebote está na impossibilidade de sentir prazer sem a droga. Passada a excitação que ela provoca, a pessoa não volta ao normal. Fica deprimida, desanimada. Tudo perde a graça. Como só sente prazer sob a ação da droga, torna-se um usuário crônico. Às vezes, tenta suspender o uso e reassumir as atividades normais, mas nada lhe dá prazer. Parece que, por vingança divina, o cérebro perdeu a capacidade de experimentar outras fontes que não a desse prazer artificial que a droga proporciona. Essa é uma das tragédias a que se expõem os dependentes químicos. No processo de reabilitação, quando a pessoa para de usar droga, é fundamental ajudá-la a reencontrar fontes de prazer independentes da substância química. Drauzio – Quem está de fora dificilmente entende o comportamento do dependente. “Esse cara, em vez de estar namorando, indo ao cinema, estudando, fica cheirando cocaína ou fumando crack”, é o que normalmente todos pensam. Isso dá a sensação de que o outro é fraco, com comportamento abjeto, digno de desprezo. Quem está passando por isso, vê a realidade de forma diferente? Ronaldo Laranjeira – Na verdade, essa pessoa está doente. Seu cérebro está doente, com a sensação de que não existe outro prazer além da droga. Isso acontece também com o cigarro, uma fonte preciosa de prazer para os fumantes que adiam a decisão de parar de fumar por medo de perdê-la. De fato, 30% dos fumantes, logo depois que se afastam da nicotina, apresentam sintomas expressivos de depressão e precisam ser medicados com antidepressivos. BUSCA DO PRAZER TOTAL Drauzio - Você acha que um dia aparecerá uma droga cujo mecanismo de ação se encarregue de nos deixar felizes sem provocar malefícios no cérebro? Ronaldo Laranjeira – Não acredito. Fica difícil imaginar uma droga que aja só no centro de prazer sem perturbar os demais mecanismos bioquímicos do cérebro, que é um órgão complexo e evolutivamente preparado para vivenciar muitas formas de prazeres sutis. Para tais estímulos, está aparelhado. Para os advindos das drogas, não. Drauzio – Você não acha que o homem está sempre à procura do prazer total? Ronaldo Laranjeira – A busca do prazer é uma característica positiva do ser humano. No caso das drogas, porém, ao querer superar a própria biologia por um artifício grosseiro, ele acaba se empobrecendo. O desejo de intensificar o prazer ao máximo empurra o homem para uma guerra que jamais será vencida. CAMPANHAS CONTRA AS DROGAS Drauzio – Quando analisamos as campanhas contra as drogas, verificamos que se baseiam muito nos aspectos negativos dessas substâncias. A ideia é sempre assustar o usuário: “droga mata”. Aí, o garoto fuma um baseado e não morre. Ao contrário, sente-se bem e fica achando que tudo não passa de uma grande mentira. Você acha que o enfoque das campanhas é ingênuo? Ronaldo Laranjeira – Estamos ainda muito no começo. Na criação de um modelo do que acontece com os usuários de droga, as campanhas estão numa fase bastante embrionária, mas acho que estão certas ao afirmar que drogas fazem mal. Ficar só nisso, porém, é passar uma informação de saúde ingênua e pobre. É preciso dizer como e por que as drogas são altamente prejudiciais ao organismo para que a pessoa tome uma decisão firme, bem alicerçada, e disponha-se a abandoná-las. As evidências nos mostram que, quando se trabalha com a prevenção, a prioridade deve ser dada aos fatores de risco. Todavia, a partir do momento em que já está instalado o consumo (maconha, nos casos mais comuns), as estratégias teriam de ser bem diferentes. ORIENTAÇÃO AOS PAIS Drauzio – Muitas vezes os pais ficam apavorados quando encontram maconha nas coisas dos filhos. Como você orienta quem vive esse problema? Ronaldo Laranjeira – Na verdade, maconha é a primeira droga ilícita que a pessoa consome, mas antes disso, em geral, já experimentou o álcool e o cigarro. Já não se discute mais que, quanto mais cedo o adolescente entrar em contato com a droga, maior será a probabilidade de “escalar”, isto é, de partir para outras drogas ou intensificar o uso da maconha. É muito difícil prever quem vai ou não embarcar nesse processo. Sabe-se, porém, que quantos mais amigos envolvidos com drogas ele tiver, maior risco correrá do uso tornar-se crônico. O primeiro passo para enfrentar a situação é os pais se informarem sobre o que está acontecendo na vida dos filhos e voltarem a exercer controle mais efetivo sobre suas atividades. Em geral, esse problema reflete uma certa crise familiar. Por razões diversas, pais e filhos se distanciaram. Por isso, a estratégia básica é levar ao conhecimento dos pais o que está acontecendo com seus filhos e os riscos que eles correm. Quanto ao adolescente, é complicado conversar sobre esses riscos. A tendência do jovem que já se envolveu com maconha é minimizá-los ao máximo. “Que mal existe em fumar um baseado por semana?” é a pergunta que muitos fazem. Acontece que, na maioria das vezes, quem começou precocemente, no período de seis meses, estará fumando um baseado por dia. Na entrevista clínica, não dá para antever o caminho que cada um percorrerá no mundo das drogas. Quem já teve o desprazer de acompanhar um adolescente numa entrevista, tranquilizar os pais, dizendo – “Olhem, ele só está usando uma vez por semana. Essa é uma experiência pela qual ele deve passar.” – e, depois de dois anos, ver esse jovem totalmente deteriorado, traficando drogas, fica muito preocupado com o momento certo em que deve interferir. Esse é o desespero dos pais e o dilema dos profissionais: agir na medida exata da necessidade de cada caso. Nem todos precisam de tratamento, mas não se pode deixar escapar aqueles para os quais o acompanhamento clínico é indispensável. Drauzio – Em que você se baseia para julgar se um garoto, que afirma fumar maconha a cada dois meses , representa risco de tornar-se um usuário crônico? Ronaldo Laranjeira – É preciso estar atento a três fatores que combinados são sinais de alerta e requerem algum tipo de acompanhamento. O primeiro é atitude por demais tranquila do adolescente que considera a maconha inofensiva e destituída de inconveniências. Depois, é importante considerar a rede social em que está inserido. Os amigos com quem convive são usuários da droga? Por último, deve-se avaliar seu desempenho nas atividades cotidianas. É o caso do bom aluno até os 13 anos, que foi perdendo o interesse pela escola e não reage mesmo diante da ameaça de perder o ano. PARANOIA ASSOCIADA AO CONSUMO DE DROGAS Drauzio – A paranoia é um efeito terrível da cocaína. O indivíduo cheira e entra numa crise persecutória alucinante. O que leva alguém a usar uma droga sabendo que irá provocar uma sensação medonha e que nenhum prazer oferece? Ronaldo Laranjeira – Essa é a essência da dependência química de uma droga. Primeiro aparece o efeito prazeroso e, depois, o desprazer. Com a cocaína, isso é mais intenso. Seu efeito de excitação e de prazer é imediato, ocorre em poucos segundos. Alguns minutos depois, desaparece e surgem os efeitos desagradáveis. Confrontando os dois, prevalece a lembrança dos bons momentos e a pessoa volta a usar a droga. Tive um paciente que injetava cocaína. Suas veias tinham sumido, mas mesmo assim ele não desistia. Expunha-se ao tormento de dezenas de picadas para obter um único resultado positivo que, em sua balança emocional, compensava o sofrimento anterior. Os fumantes têm comportamento parecido. Muitos, mesmo com traqueostomia, não deixam de fumar. Drauzio - Conheci alguns que, apesar da insuficiência vascular cerebral, ficavam tontos e caíam no chão quando fumavam, mas não desistiam e logo depois acendiam um cigarro outra vez. Ronaldo Laranjeira - É a força da dependência, um fenômeno diversificado cuja essência é a disfunção cerebral provocada por várias drogas e que se manifesta em pessoas de personalidades diferentes. Drauzio - A maconha também pode provocar paranoia? Ronaldo Laranjeira – É menos comum, mas casos de paranoia também ocorrem especialmente em pessoas que já apresentaram algum problema mental. Quem tem um surto psicótico e fuma maconha, por exemplo, faz um péssimo negócio, porque se intensificarão os sintomas dessa doença já estabelecidos anteriormente. No que se refere à cocaína, nem todos que manifestam esses sintomas desenvolverão a síndrome paranoica. No entanto, quando isso acontece, as consequências são desastrosas. Soube de um usuário de cocaína que, em crise, saiu em disparada por uma estrada, foi atropelado e morreu. Há outros que pegam uma arma e disparam a esmo. FORÇA PODEROSA DA DEPENDÊNCIA Drauzio – Muitos usuários garantem que a maconha é uma droga fácil de largar, que não causa dependência. Isso é verdade? Ronaldo Laranjeira – Cada droga tem um perfil de dependência, e a maconha não é muito diferente das demais. Como já foi dito, atualmente ela está dez vezes mais forte do que era há 30 anos. Por isso, não é tão fácil afastar-se dela, principalmente se a pessoa começou a fumar na adolescência, quando ainda era um ser em formação. O acompanhamento de usuários de maconha, no ambulatório da Escola Paulista de Medicina, sugere exatamente o contrário. As pessoas conseguem suspender o uso da droga durante alguns dias, mas a vontade fica incontrolável e elas voltam a fumar os baseados. Drauzio – No Carandiru, examino rapazes com tuberculose que fumam cigarros de nicotina, de maconha e crack. Explico-lhes que eles não podem fumar de jeito nenhum porque seus pulmões estão doentes, muito inflamados. Na semana seguinte, eles me informam que conseguiram suspender o crack e a maconha, mas o cigarro está difícil. Isso se repete nas semanas subsequentes. Tive centenas de casos como esse, que me convenceram de que o cigarro é mais difícil de largar do que as outras drogas. Estou exagerando? Ronaldo Laranjeira – Embora o efeito da nicotina não seja tão poderoso quanto o da maconha, é muito mais constante. Imaginemos que o fumante dê dez tragadas em cada cigarro e fume vinte cigarros por dia. Feitas as contas, num único dia seu cérebro recebeu um reforço positivo pelo menos duzentas vezes. Cada tragada é igual a uma injeção de nicotina na veia. Esse estímulo, repetido através dos anos, faz com que a dependência de nicotina seja mais poderosa do que as outras. A maconha, no momento, passa por processo semelhante. Mais disponível e mais barata, seu consumo aumentou e, consequentemente, o número de cigarros fumados por dia e os estímulos cerebrais que provocam aumentaram também. Portanto, em termos de dependência, as duas drogas não diferem muito. Pelo atual padrão de consumo, mais fácil, acessível e intenso, maconha e nicotina têm muito em comum. Por isso, não compartilho a ideia de que maconha seja uma droga leve. Drauzio – O usuário de cocaína diz que deixará de usar a droga quando quiser. No entanto, admite que não poderá vê-la, porque entrará em desespero e a vontade de consumi-la ficará incontrolável. Como se pode explicar esse fenômeno? Ronaldo Laranjeira – Ficar longe da droga, quando se está disposto a abandoná-la, faz parte do processo de aprendizado. No exato instante em que a pessoa vê a cocaína, seu cérebro começa a preparar-se para recebê-la e dispara um mecanismo que chamamos de craving ou fissura. Isso vale para qualquer droga. Depois que ficou dependente, é quase impossível alguém ver a droga e resistir ao desejo de usá-la. Por isso, na fase inicial do tratamento, aconselha-se que o usuário se afaste completamente de todos esses estímulos, pois ficará menos difícil lidar com o fenômeno da dependência química.