terça-feira, 28 de janeiro de 2014

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Recaída ao uso de drogas é alvo de pesquisa

Exame Objetivo é identificar alterações estruturais nos neurônios que possam ser alvo para novos medicamentos mais eficazes contra a dependência Em busca de tratamentos mais eficazes contra a dependência, cientistas do National Institute on Drug Abuse (Nida/NIH), dos Estados Unidos, têm se dedicado a criar métodos para identificar e estudar pequenos grupos de neurônios relacionados com a sensação de fissura por drogas. O grupo coordenado por Bruce Hope conta com o brasileiro Fábio Cardoso Cruz, ex-bolsista de mestrado e de pós-doutorado da FAPESP que acaba de publicar um artigo sobre o tema na revista Nature Reviews Neuroscience. “Nossa linha de pesquisa se baseia no pressuposto de que a dependência é um comportamento de aprendizado associativo. Quando um indivíduo começa a usar uma determinada substância, seu encéfalo associa o efeito da droga com o local em que ela está sendo consumida, as pessoas em volta e a parafernália envolvida, como seringas, por exemplo. Com o uso repetido, essa associação fica cada vez mais forte, até que a simples exposição ao ambiente, às pessoas ou aos objetos já desperta no dependente a fissura pela droga”, afirmou Cruz. Evidências da literatura científica sugerem que essa memória associativa relacionada ao uso da droga com os elementos ambientais seria armazenada em pequenos grupos de neurônios localizados em diferentes regiões do encéfalo e interligados entre si – conhecidos em inglês como neuronal ensembles. “Quando o dependente depara com algo que o faz lembrar da droga, esses pequenos grupos neuronais são ativados simultaneamente e, dessa forma, a memória do efeito da droga no organismo vem à tona, fazendo com que o indivíduo sinta um desejo compulsivo pela droga que é capaz de controlar o comportamento e fazer com que o dependente em abstinência tenha uma recaída mesmo estando ciente de possíveis consequências negativas, como perda do emprego, da família ou problemas de saúde”, disse Cruz. Por meio de experimentos feitos com animais, os pesquisadores do Nida mostraram que apenas 4% dos neurônios do sistema mesocorticolímbico são ativados nesses casos de recaída induzida pelo ambiente. “São vários pequenos grupos localizados em regiões do cérebro relacionadas com as sensações de prazer, como córtex pré-frontal, núcleo accumbens, hipocampo, amígdala e tálamo”, contou. Segundo Cruz, a maioria dos trabalhos que buscam entender a neurobiologia da dependência e descobrir possíveis alterações moleculares relacionadas com comportamentos que levam à recaídaavalia todo o conjunto de neurônios presente em amostras de tecidos cerebrais em vez de focar apenas nesses pequenos grupos. “Acreditamos que uma alteração realmente significativa pode ser mascarada por mudanças nesses outros 96% dos neurônios não relacionados com a recaída. Por isso buscamos metodologias para estudar especificamente esses 4%”, explicou. Uma das estratégias descritas no artigo publicado na Nature Reviews Neuroscience faz uso de uma linhagem de ratos transgênicos conhecida como lacZ. Os animais são modificados para expressar a enzima β-galactosidase apenas nos neurônios ativos. “Nós colocamos o animal em uma caixa e o ensinamos a bater em uma barra para receber cocaína. Depois de um tempo, movemos o animal para uma caixa diferente, na qual ele não recebe a droga quando bate na barra. Chega uma hora em que o animal para de bater na barra. É como se estivesse em abstinência. Mas quando o colocamos de volta na primeira caixa, ou seja, no ambiente que ele foi treinado a receber a droga, ele imediatamente volta a bater na barra à procura da droga”, contou Cruz. Nesse momento, os pequenos grupos neuronais são ativados no rato pelos elementos do ambiente. Os pesquisadores administram então uma substância chamada Daun02, que interage com a enzima β-galactosidase e se transforma em um fármaco ativo chamado daunorubicina, que provoca a morte desses neurônios ativos. “Esperamos cerca de dois dias para o fármaco concluir seu efeito e, quando colocamos novamente o animal no ambiente associado à administração da droga, ele não apresenta mais o mesmo comportamento de busca da substância. É como se a fissura tivesse sido apagada após a morte desse pequeno grupo de neurônios relacionado com esse comportamento de recaída”, contou Cruz. Outra técnica descrita no artigo também faz uso de animais transgênicos capazes de expressar uma proteína fluorescente apenas nas células ativadas. “Com auxílio da citometria de fluxo, conseguimos isolar apenas essas células que ficam fluorescentes e então procuramos por possíveis alterações moleculares. Podem ser alterações estruturais, como aumento no número de espinhos dendríticos, o que aumenta a interação sináptica e deixa o neurônio mais sensível. Podem ser proteínas intracelulares que também aumentam a atividade desses neurônios”, explicou. Uma vez identificadas essas alterações, acrescentou Cruz, elas vão se tornar alvos para o desenvolvimento de fármacos capazes de tratar de forma mais eficiente a dependência. “Não existe hoje um medicamento realmente eficaz, tanto que cerca de 70% dos usuários de cocaína sofrem recaída após um período de abstinência. No caso do álcool, o número é maior que 80%”, afirmou. O grupo do Nida conta ainda com outros pesquisadores brasileiros, entre eles Rodrigo Molini Leão, que acabou de concluir o doutorado com Bolsa da FAPESP na Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade Estadual Paulista (FCFAr-Unesp) em Araraquara. Também participa o doutorando Paulo Eduardo Carneiro de Oliveira, da FCFAr-Unesp.

Maconha na escola

O Estado de S. Paulo Uma nova pesquisa sobre comportamento jovem, divulgada no final de setembro, sugere uma relação entre consumo de maconha e um pior desempenho dos alunos na escola. O projeto Este Jovem Brasileiro, realizado desde 2006 pelo Portal Educacional, do Grupo Positivo, em escolas particulares, tem metodologia simples. Cada aluno responde a uma pesquisa online, no laboratório de informática, em condição de anonimato. Em 2013, as perguntas abordaram sexualidade, drogas, violência, emoções e uso de internet. Foram entrevistados 5.675 estudantes, do 8.º ano do fundamental até o 3.º ano do ensino médio de 67 escolas, em 16 Estados do Brasil. A maconha já havia sido experimentada por quase 10%. O uso aumenta com a idade. Aos 13, 4% já tinham tido experiência com a droga e aos 17, 16%. Quase a metade dos que experimentaram teve o primeiro contato entre 14 e 15 anos, o que mostra a importância de discutir esse tema na escola ainda no ensino fundamental. Entre os que já tinham consumido maconha, 18% usaram todos os dias ou quase todos os dias no mês anterior à pesquisa. Outro estudo recente sobre o tema, o 2.º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, da Unifesp, feito em 149 municípios brasileiros em 2012, revelou que 4% dos jovens a partir dos 14 anos já tinham experimentado maconha. Mas os números mais surpreendentes da pesquisa atual são os obtidos quando se cruzam os dados sobre emoções e rendimento na escola com os de uso de maconha. No total, 13% dos alunos entrevistados já haviam sido reprovados na escola. Entre os que já haviam experimentado maconha, esse número chega a 31%, ou seja, quase um em cada três. Outro dado chama a atenção: 48% dos alunos dizem ter dificuldade em manter concentração em sala de aula (talvez mais um reflexo da geração internet, que consegue executar tarefas distintas ao mesmo tempo, mas tem uma tremenda dificuldade em focar em um só estímulo). Entre os que já usaram maconha, essa dificuldade de concentração parece ser ainda maior: 63%. Já 35% dos alunos referem dificuldade para entender as aulas. Entre os que já usaram maconha, 51%. Quando analisamos algumas emoções, os dados também chamam atenção. No total, 29% dizem se sentir tristes ou desanimados com frequência. Entre os que usaram maconha, o número sobe para 39%. Já 47% disseram se sentir ansiosos sem motivo aparente. No grupo com experiência com maconha, esse índice chega a 54%. Embora a amostragem não seja representativa de todo o País (apenas escolas particulares participaram) e não tenha havido controle de todas as variáveis, os dados merecem uma avaliação mais cuidadosa, principalmente no momento em que países vizinhos e políticos no mundo todo discutem uma maior flexibilização nos controles de venda e consumo de maconha. A pesquisa sugere uma possível relação entre consumo de maconha (principalmente no uso mais frequente) e um pior resultado nos estudos e, também, entre o uso da droga e dificuldades emocionais. Pela metodologia utilizada não se pode afirmar que é a maconha que causa queda no rendimento escolar e maior índice de reprovação. Talvez o uso dela seja maior justamente entre os alunos que já apresentavam mais dificuldades emocionais e pior desempenho escolar. Ela poderia estar sendo usada para aliviar, por exemplo, sintomas depressivos e ansiosos. De qualquer forma, os dados apontam para a importância de se fazer um trabalho cuidadoso e permanente na escola de prevenção e informação sobre uso de drogas. Também mostram a necessidade de maior atenção aos jovens com dificuldades emocionais e de aprendizagem, já que eles podem estar em maior risco de consumo frequente de diversas substâncias (álcool, cigarro e maconha, entre outras).

Novas drogas sintéticas colocam autoridades em alerta no Estado

Zero Hora Com variação de fórmulas, elas passam ilesas pela legislação e entram e saem do país com facilidade A cada três dias uma nova droga é descoberta no mundo. Elas são pequenas e se confundem com remédios inofensivos, como os analgésicos. Entram e saem do país com facilidade e circulam em festas de alto padrão. Com tantas variações em suas fórmulas, passam ilesas pela legislação brasileira. E é por embaralharem a percepção da polícia que as drogas sintéticas colocam agora o Estado em alerta: o número de apreensões de comprimidos não-identificados aumentou três vezes de janeiro a setembro de 2013, comparado com todo o ano passado. Das 75 amostras de apreensões supostamente de ecstasy enviadas para análise do Instituto-geral de Perícias (IGP), neste ano, 30% deram negativo para esta substância e positivo para outras, o que também ocorreu com metade das 25 doses de LSD. Conhecidas como "designer drugs", estes novos tóxicos são desenvolvidos em laboratório à base de anfetamina e metanfetamina e custam cinco vezes mais do que a maconha. — Aquilo que antes era uma forma de apresentação característica do LSD agora também aparece impregnado com DOB (brolamfetamina), substância de uso proscrito no Brasil. Os comprimidos, que antes eram característicos de ecstasy, também têm surgido com outras drogas, sozinhas ou uma combinação entre elas, tais como ketamina — detalha a farmacêutica Paulini Braun Wegner, chefe-substituta da Divisão de Química Forense do IGP. Apreensões no Salgado Filho ainda são incomuns, diz PF No Estado, uma unidade para tratar dependentes de drogas sintéticas deve ser lançada no Hospital de Clínicas de Porto Alegre ao longo de 2014. A necessidade surgiu após uma pesquisa feita entre 2010 e 2011 constatar que mais de 60% dos entrevistados no Clínicas, usuários de ecstasy ou LSD, sofriam de estresse pós-traumático ligado a casos de estupros. Apesar de o Brasil não aparecer entre países onde mais circulam as drogas modificadas em laboratório, como ocorre na Europa, o governo federal pretende criar, até o ano que vem, um sistema de alerta rápido para o ingresso de novas substâncias entorpecentes no país. A ideia é aumentar o rigor frente à comercialização, já que as fórmulas químicas destas substâncias são usadas em outras áreas, como medicina, veterinária e agropecuária, e o tráfico não se dá nas esquinas como ocorre com os entorpecentes tradicionais. Luis Fernando Martins Oliveira atuou no Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) por oito anos e diz que essas drogas podem estar em maior quantidade do que se pensa pela dificuldade na repressão: — Não são pessoas que fazem do tráfico a sua sobrevivência. Nos últimos três anos, o diretor do (Denarc), Heliomar Franco, viu um aumento de 47% das apreensões de entorpecentes como cocaína, maconha e crack, o que explica o foco das investigações: — As outras drogas, pelo alto custo, ficam reduzidas a um pequeno nicho socioeconômico. Elas também não causam a lesividade social do crack e da cocaína, que induzem ao crime — diz Franco, alertando que a principal rota dos produtos tem origem na Holanda e passa por Santa Catarina até chegar ao Estado. Apreensões de drogas trazidas do exterior, porém, são incomuns. Nenhuma droga sintética foi apreendida no Aeroporto Salgado Filho. — Temos treinamento, mas é claro que é mais difícil de identificar o comprimido — revela o delegado José Antonio Dornelles de Oliveira, chefe do Núcleo de Polícia Aeroportuária da Polícia Federal. Hospital de Clínicas terá ambulatório para viciados O Rio Grande do Sul pode ser o primeiro Estado brasileiro a ter um ambulatório para tratar dependentes de drogas sintéticas, como ecstasy, LSD e suas variações. Está em andamento um projeto do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas de Porto Alegre para que, até 2014, o espaço possa receber pacientes. A psicóloga Lysa Remy, pesquisadora do Centro, passou um mês em Londres, em setembro de 2012, para conhecer o serviço de uma clínica — chamada Club Drug Clinic — e adaptá-la à realidade gaúcha. O projeto conta com a parceria do Laboratório de Toxicologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) para identificar o tipo exato de droga consumida, o que deve ampliar também o conhecimento a respeito destas modificações químicas que circulam no Estado. A ideia surgiu depois que um estudo foi realizado com 240 usuários de ecstasy e LSD entre 2010 e 2011 no Hospital de Clínicas. — Não se sabe a prevalência do uso na nossa população jovem, mas se sabe que o grupo de usuários tem prejuízos graves — conta Lysa. A pesquisa revelou tratar-se de um grupo muito vulnerável: 60% apresentaram estresse pós-traumático. — Foi uma surpresa. Percebemos que eles relatavam alguma experiência de abuso sexual, o que é explicado pelo conceito do ecstasy, conhecido como a "droga do amor" — disse Lysa. Para tratar dos efeitos físicos e emocionais, além da desintoxicação, será necessária uma equipe de 10 profissionais altamente treinados. Rede rápida de comunicação Preocupado com um possível aumento de circulação de novas drogas no Brasil, o secretário nacional de Políticas Antidrogas do Ministério da Justiça, Vitore André Zílio Maximiano, visitou o Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência para conhecer o sistema de alerta rápido e se inspirar. A ideia é criar uma rede rápida de comunicação: sempre que houver a apreensão de uma substância que não está relacionada na portaria da 344 da Anvisa, que estabelece as drogas proibidas no país pelo nome do princípio ativo, e que a polícia local não tenha conseguido identificar, uma amostra deve ser enviada à Polícia Federal, em Brasília, para averiguação. — A droga sintética, como é manufaturada, passa por processo químico muito sofisticado e, por isto, exige uma análise laboratorial ainda mais apurada para identificá-la. Investiremos em tecnologia para que esta investigação seja feita com rapidez — diz Maximiano. Caso a análise farmacológica identifique elementos que possam causar dependência física ou psíquica, a Anvisa poderá incluí-la na portaria. DESCONHECIDAS E PERIGOSAS — Cápsula do vento: conhecida por conter a brolanfetamina (DOB), é vendida geralmente em cápsulas gelatinosas transparentes. No Estado, foram analisadas apenas na forma de micropontos de papel rígido, semelhantes ao LSD. Seu efeito alucinógeno leva mais tempo para se iniciar, o que estimula doses maiores. — Sucesso: espécie de lança-perfume de segunda linha, é feito à base de gás freon (usado em refrigeradores). A sensação inicial é de ansiedade instantânea e de curta duração. — Special Key: cápsulas ou comprimidos feitos à base de analgésico líquido para cavalo. Para o delegado Heliomar Franco, ela tem um dos efeitos mais preocupantes, pois provoca paralisia corporal, seguida de sensação de viagem fora do corpo e amnésia. — Crystal ou ice: à base de metanfetamina, é muito usada nos Estados Unidos e, aos poucos, está chegando ao Brasil. Com alto potencial lesivo à saúde, deixa os usuários viciados em pouco tempo. — Falsa heroína: em 2010, o delegado Luís Fernando Martins Oliveira, que atuava no Denarc, pensou estar diante da primeira apreensão de heroína no Estado. Descobriu uma jovem de classe média que enviava sacos plásticos contendo uma substância parecida com grão de areia para São Paulo. Análise laboratorial mostrou se tratar de dimetiltriptamina (DMT) — produto extraído da raiz da planta ayahuasca, utilizada em ritos da seita do Santo Daime. Além de ataques de pânico, a droga pode causar danos irreversíveis ao cérebro. OS RISCOS DOS NOVOS ENTORPECENTES — Podem matar, seja pelo efeito farmacológico, seja pelo estado mental alterado que induzem. — São projetadas para que tenham o máximo de efeitos alucinógenos com o mínimo de efeitos colaterais. Pequenas modificações na sua estrutura já caracterizam uma droga diferente, o que dificulta a fiscalização. — Muitas pessoas chegam às emergências e não recebem tratamento adequado porque médicos não conseguem identificar que substância foi utilizada. — Conforme a pesquisadora do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas do Hospital de Clínicas Lysa Remy, mortes estão ocorrendo em função destas drogas e poucas são documentadas.