sábado, 27 de novembro de 2010

Combate ao crack precisa incluir grupos de autoajuda, diz especialista

Governo deve ouvir quem faz maioria do trabalho', diz dirigente de entidade.
Fórum nacional discute combate à droga nesta quinta-feira em Brasília.
Fábio Tito Do G1, em Brasília

O coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), Ronaldo Laranjeira, criticou nesta quinta-feira (25) as ações do governo no combate ao crack. Segundo ele, o governo precisa incluir os grupos de autoajuda na política de combate ao crack e outras drogas.

"Parte do problema é que o governo não escuta a sociedade civil. Ele se baseou apenas em análises técnicas para traçar a política [de combate ao crack]", disse Laranjeira ao G1 após fala que foi aplaudida por participantes do 1º Seminário Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso de Crack, promovido pelo Conselho Federal de Medicina nesta quinta, em Brasília.

O coordenador afirmou que a política de redução de danos aplicada pelo governo nas medidas de combate ao vício vai contra o pensamento de grupos como os Narcóticos Anônimos ou os Alcoólicos Anônimos, que pregam a busca da abstinência.
A secretária-adjunta da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) – órgão ligado à Presidência da República –, Paulina Duarte, participou do seminário e rebateu as críticas de Ronaldo Laranjeira. Ela apresentou um resumo dos investimentos federais feitos nas ações de combate ao uso do crack, como a criação de 30 Centros de Referência de Formação Permanente e a disponibilização de 2.500 leitos em hospitais públicos para tratamento de viciados.

"O lema dos grupos de autoajuda é 'só por hoje, não usar drogas'. Já a política atual não tem ênfase na abstinência, e sim na redução do consumo", afirmou Laranjeira. Segundo ele, os grupos de autoajuda são responsáveis pela maioria dos atendimentos a viciados no país, e perto disso os atendimentos providenciados pelo governo chegam a ser "irrisórios".

"A fala do dr. Ronaldo não é verdade, se considerarmos que o governo vem fazendo um investimento gigantesco. Esses investimentos foram responsáveis, inclusive, pela criação do instituto que ele dirige [Inad], que é financiado integralmente com recursos da Senad", declarou a secretária. Paulina afirmou que a secretaria destinou em 2010 cerca de R$ 4 milhões para as instituições religiosas e grupos de autoajuda, com o intuito de "fortalecer a rede."

A secretária também falou sobre uma pesquisa feita pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que pretende levantar dados nacionais sobre o consumo do crack. Segundo ela, o estudo tem custo de R$ 7 milhões ao governo federal e deve apresentar os primeiros resultados em dezembro deste ano.

Parcerias
A Senad informou que em 2006 fez uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB) e com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IpeaA) para a realização do “Mapeamento das instituições governamentais e não-governamentais de atenção às questões relacionadas ao consumo de álcool e outras drogas no Brasil”, no qual foi identificada uma grande participação da sociedade civil na rede de atenção existente no Brasil, por meio de instituições de cunho religioso.

Desde então, a Senad afirma ter desenvolvido, dentro do governo e com a participação da sociedade, o projeto de “Prevenção do Uso de Drogas em Instituições Religiosas e Movimentos Afins – Fé na Prevenção”. Esse projeto, segundo a Senad, reconhece o importante papel desempenhado pelas instituições religiosas no reforço dos valores éticos fundamentais, determinantes nas ações de prevenção do uso de álcool e outras drogas.

De acordo com a Senad, o “Fé na Prevenção” oferece aos líderes religiosos um vasto material teórico, com embasamento científico, além do curso de capacitação em prevenção do uso de drogas.

Outro programa que também envolve grupos da sociedade civil , segundo a Senad, é o “Curso de Formação em Terapia Comunitária – com ênfase nas questões relativas ao uso do álcool e outras drogas”, no qual lideranças comunitárias são preparadas para responder às questões apresentadas pelos participantes das terapias sobre a questão das drogas.

Somando os dois cursos, mais de 5 mil inscritos já foram capacitados para atuarem como agentes multiplicadores na prevenção e também no encaminhamento de situações decorrentes do uso abusivo e da dependência de drogas, segundo informação da Senad. Atualmente, estão sendo ofertadas mais 5 mil vagas no curso para lideranças religiosas. Outras mil serão ofertadas a terapeutas comunitários.

A Senad destaca ainda como ação postiva o Plano de Enfrentamento ao Crack e Outras Drogas, com ações de prevenção, tratamento e reinserção social do usuário de crack. No âmbito do plano, foram abertos editais para a ampliação da rede de atenção aos usuários de crack e outras drogas, com oferta de 6.120 leitos e capacitação para os profissionais que trabalham com essa população.

Médicos desconhecem como tratar dependentes de crack

Conselho Federal de Medicina vai definir orientações para profissionais no primeiro semestre de 2011
Priscilla Borges, iG Brasília

O consumo de crack no Brasil se tornou uma epidemia e, por enquanto, está absolutamente fora do controle das autoridades e das famílias brasileiras. Políticas de prevenção, tratamento e repressão ainda pouco eficientes preocupam a classe médica, que precisa atender os que sentem o efeito devastador da droga e responder às angústias de famílias que chegam aos hospitais sem saber o que fazer com os filhos. Até agora, eles dizem não saber como fazer isso.
Com este diagnóstico em mãos, o Conselho Federal de Medicina (CFM) reuniu as principais autoridades do País para traçar, até a metade do ano que vem, novas normas de atendimento aos usuários dependentes do crack.

O CFM está preocupado com a lentidão dos resultados de políticas públicas para o assunto e também com o novo plano de combate traçado pelo governo federal. Os conselheiros querem participar mais ativamente das discussões e do monitoramento das ações definidas pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas da Presidência da República (Senad), que ainda estão no papel, mas movimentarão R$ 400 milhões até o fim do ano.

Para isso, médicos interessados no tema em todo o Brasil se reuniram em Brasília nesta quinta-feira, dia 25. Iniciaram um Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso de Crack, que já tem mais duas reuniões marcadas para o ano que vem. Em março de 2011, a classe discutirá políticas de redução de danos aos usuários. Em abril, definições sobre o protocolo de atendimento ideal entrarão em pauta e, em maio, a capacitação dos profissionais que lidam com dependência química será o foco dos debates.

Desconhecimento

O primeiro encontro serviu para que gestores, pesquisadores e médicos que lidam com os pacientes na ponta dividissem preocupações e opiniões sobre as estratégias adotadas hoje no Brasil para combater o avanço do consumo da droga e auxiliar na recuperação dos dependentes.

“Sabemos pouco sobre o crack no mundo. Não há protocolo, antídoto ou dados suficientes para lidarmos com o problema. A certeza é de que todos precisamos trabalhar juntos: gestores, psiquiatras, sociedade”, afirma Ricardo Paiva, coordenador do fórum.

Uma pequena pesquisa de opinião preparada durante o evento mostrou que os médicos, de fato, desconhecem as especificidades do tema. Em perguntas como “você se sente qualificado para tratar o crack” ou “você conhece protocolos de assistência ao usuário”, a maioria dos participantes respondeu não (65% e 75,8%, respectivamente). Metade dos participantes admitiu não saber para onde encaminhar um usuário de crack se precisasse. Roberto Luiz d’Ávila, presidente do CFM, reconheceu que ele próprio desconhece as respostas.

“Cabe aqui uma reflexão de que precisamos agir e sensibilizar os médicos para o problema, tanto como profissionais quanto como cidadãos”, comentou. A falta de formação adequada para lidar com os pacientes usuários da droga é apenas um dos empecilhos para o enfrentamento adequado da epidemia. Os médicos criticam a definição lenta de ações eficientes nesse sentido.

“Infelizmente, nos últimos 10 ou 12 anos, o governo não teve sensibilidade para compreender a urgência que o crack exige e demorou a responder à epidemia”, critica Ronaldo Laranjeira, coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas (Inpad).

Para Laranjeira, os modelos de atendimento dado aos usuários hoje e os definidos no novo plano de combate à droga não acompanham a complexidade da dependência causada pelo crack. “Essa é uma doença complexa. Vamos precisar de ambulatórios especializados, ações em escolas, maior relação com grupos de autoajuda, moradias assistivas”, afirma. O médico ressalta que grande parte dos usuários da droga morre nos primeiros cinco anos de vício. “Não vimos essa urgência refletida no combate ao uso da droga”, diz.

O psiquiatra defende a criação de unidades de tratamento especializadas, que combinem diferentes estratégias para evitar recaídas dos pacientes. Psiquiatras, psicólogos, grupos de autoajuda e orientação familiar têm de estar disponíveis, defende. Outro ponto fundamental, segundo ele, é preservar diferenças regionais nas ações. “Não é uma crítica partidária. Temos visto as mesmas políticas desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. A área da dependência química continua neglicenciada”, diz.

Plano federal

Paulina Duarte, secretária-adjunta da Senad, defendeu o plano elaborado pelo governo em maio. “Concordo que muito ainda é precisa muito, mas discordo da ideia de que nada foi feito. O governo tem feito um investimento gigantesco, que pode ser insuficiente ainda, especialmente nas áreas de tratamento e ressocialização. Esse não é um plano milagroso, ele nasceu de trabalhos que temos feito em parceria com universidades, financiando pesquisas”, afirmou. Segundo Paulina, R$ 400 milhões serão investidos ainda este ano no programa.

O plano contempla diferentes frentes de atuação: ensino e pesquisa; prevenção, tratamento e reinserção social, e enfrentamento ao tráfico. Nas próximas semanas, Paulina garante que uma promessa feita no lançamento, que já deveria estar no ar, finalmente estará disponível à população, um site informativo e interativo sobre o crack. O objetivo é esclarecer a população sobre a droga, mostrando como a dependência é causada, o efeito da droga no organismo, como funciona o tratamento e onde buscar ajuda.

De acordo com Paulina, a rede de assistência social e a de saúde serão ampliadas. Além da criação de leitos para dependentes químicos em hospitais gerais, mais Centros de Atenção Psicossociais (CAPs) passarão a funcionar no País. O plano também vai financiar estudos sobre o perfil dos usuários de crack no Brasil. As estatísticas disponíveis sobre isso atualmente retratam recortes da sociedade e não toda ela. Há dados sobre estudantes consumidores da droga e habitantes de algumas regiões, por exemplo.

Com dinheiro e escolarizados

Um estudo com 22 mil pessoas em todo o País será concluído no início de dezembro, segundo Paulina. Ana Cecília Marques, pesquisadora da Universidade Federal de São Paulo ( Unifesp), ressalta que o perfil dos usuários mudou desde a década de 1990, quando a droga se tornou popular no País.

“Hoje, 0,3% da população mundial está consumindo o crack. Em 2004, identificamos que pelo menos 1% dos estudantes do ensino fundamental das escolas públicas já haviam experimentado a droga. Hoje, os usuários são mais escolarizados e mais velhos”, diz.

Durante os debates, uma senhora comoveu os participantes. Professora da rede pública de ensino de Brasília, Diana Costa, 56 anos, ouviu pelo rádio a notícia do fórum. Decidiu buscar mais informações – mesmo sendo um evento para especialistas – sobre a droga que acabou com sua família. E pedir ajuda.

O filho dela, de 36 anos, e a nora, de 20, estão viciados em crack. Ela contou que eles perderam tudo o que tinham em casa para acertar dívidas com os traficantes. O filho, de dois meses, também foi rejeitado pelos dois, que o entregaram a ela. "Esse crack é uma desgraça", afirmou.

Diana pediu que os especialistas lhe orientassem. Ela já havia acompanhado o filho e a nora a hospitais públicos de Brasília duas vezes para tentar uma consulta com um psiquiatra, mas não conseguiram. E ninguém a indicou o que fazer.

"Eu estou desesperada. Essa droga acabou com meu filho, acabou com a minha vida. Isso é avassalador. Meu filho largou emprego, emagreceu quase 20 quilos em quatro meses. Não sei o que fazer", desabafou.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Três milhões de usuários de drogas injetáveis estão infectados com HIV

Cerca de 16 milhões no mundo consomem drogas por via intravenosa, diz Cruz Vermelha

Cerca de 16 milhões de pessoas no mundo consomem drogas por via intravenosa, das quais 3 milhões estão infectadas pelo vírus da aids, divulgou nesta quarta-feira, 24, a Federação Internacional da Cruz Vermelha (IFRC, na sigla em inglês), prestes a organizar o Dia Mundial Contra a Aids, em 1º de dezembro.

Em relatório, a IFRC considera que os obstáculos que impedem os usuários de drogas injetáveis de aderir a medidas de prevenção e tratamento não só contribuem para propagar a doença, mas também constituem uma violação dos direitos humanos.

Dentre as barreiras, o documento cita a detenção dos dependentes químicos e a falta de acesso a tratamentos de reabilitação e programas de troca de agulhas e seringas.

"O aumento das taxas de infecção pelo HIV entre os consumidores de drogas injetáveis não só identifica uma urgência em matéria de saúde pública, mas testemunha a negligência do usuário e da discriminação desses indivíduos, vítimas de uma dependência dramática", afirmou o presidente da IFRC, Tadateru Konoe.

De acordo com dados da Unaids (programa da ONU para o combate à doença), em 2009 cerca de 40% dos consumidores de drogas injetáveis viviam na China, na Federação Russa e nos Estados Unidos.

No entanto, os soropositivos dependentes de drogas são especialmente numerosos em cinco países: China, Malásia, Rússia, Ucrânia e Vietnã, aponta o relatório.

Na Europa Oriental e na Ásia Central, até 60% dos consumidores de drogas injetáveis estão contaminados pelo HIV, enquanto a IFRC denuncia que as leis e políticas persistem estigmatizadas à repressão e à exclusão. "Na Ucrânia, o número de soropositivos que usam drogas é tão elevado que o país está rodeado por uma epidemia generalizada", afirmam.

Os pesquisadores calculam que, nesse país, entre 38,5% e 50,3% dos consumidores de drogas injetáveis vivem com aids e 1,3% da população adulta geral é composta por soropositivos, o que torna a Ucrânia o país da Europa com mais infectados pela doença.

"Na Europa Central e na Rússia, taxas alarmantes de transmissão de aids são registradas entre os usuários de drogas injetáveis e entre a população em geral", revela o relatório, que destaca que a situação é completamente diferente nos países onde se dá prioridade à redução de riscos frente à criminalização.

Nesses locais, a incidência do HIV está estabilizada e praticamente não se observa transmissão à população em geral.

O documento também adverte que a injeção de drogas associada ao comércio do sexo aumenta o risco de difusão da aids entre a população. Como exemplo, o texto cita que, na província chinesa de Sichuan, cerca de 60% das prostitutas são também usuárias de drogas por via intravenosa e injetam agulhas infectadas. Em certas regiões do Reino Unido, a porcentagem chega a 78%.
Autor:
OBID Fonte: Efe

Fumar maconha pode deixar o corpo mais sujeito a infecções

Substância da droga estimula produção de célula que prejudica sistema imunológico

Uma pesquisa feita por uma equipe internacional de cientistas indica que fumar maconha deixa o corpo mais vulnerável a infecções e certos tipos de câncer, por prejudicar o sistema imunológico. De acordo com os pesquisadores, isso ocorre porque compostos da droga estimulam a produção de células chamadas MDSCs, que afetam o nosso mecanismo de combate a infecções.

Em pacientes com câncer, é comum que o número de células desse tipo cresça no corpo. Elas prejudicam o combate do corpo ao tumor e podem fazer com que eles se alastrem. Prakash Nagarkatti, da Universidade do Sul da Califórnia, diz que a maconha estimula a produção das MDSCs.

“Essas células parecem ser únicas e importantes e que podem ter sua produção estimulada pelo câncer ou por outros agentes químicos como os canabinoides (substância presente na maconha), que prejudicam o sistema de resposta do corpo contra infecções”.
Autor:
OBID Fonte: Do R7

Alcoolismo nas mulheres é herança materna, diz estudo

Folha de São Paulo
Ao menos uma em cada cinco alcoólatras é filha de outra dependente de bebida, afirma pesquisadora.

Entre elas, transmissão de comportamento em família é determinante no desenvolvimento vício, aponta trabalho.

O alcoolismo pode ser passado de mãe para filha, de acordo com a psicóloga Ana Beatriz Pedriali, autora do livro recém-lançado "Um Passado que Vive -Transmissão Familiar do Alcoolismo Feminino" (Rosea Nigra, 152 págs., R$ 35).

A pesquisadora acompanhou 62 mulheres alcoólatras e não alcoólatras na sua tese de doutorado e concluiu que, além do fator genético, o comportamento e as relações familiares são determinantes para o vício.

Entre as alcoólatras, pelo menos uma em cada cinco era filha de uma mulher também viciada em álcool.

"Há uma transmissão do comportamento, da violência e dos conflitos. Não há registros desse fenômeno em homens", diz Pedriali.

A maioria das mulheres dependentes tinha uma relação conflituosa com mães e avós. "Elas reproduzem o mesmo comportamento com as filhas. São mulheres que aprendem a resolver problemas bebendo."

O trabalho foi desenvolvido no IPq (Instituto de Psiquiatria) do Hospital das Clínicas de São Paulo.

DIFERENÇAS

A genética é responsável por 50% a 60% da tendência ao alcoolismo tanto em mulheres quanto em homens, segundo Patricia Hochgraf, coordenadora do Programa Mulher Dependente Química do IPq.

Mas as semelhanças entre os sexos param por aí. "A mulher é mais vulnerável e pode ficar viciada mais rapidamente", afirma a psicóloga Ilana Pinsky, vice-presidente da Abead (associação para estudos do álcool e outras drogas).

Os hábitos que acompanham a dependência também diferem. Ao contrário dos homens, que bebem em grupo e em público, elas bebem mais sozinhas.

"É um vício escondido. Por isso, o alcoolismo feminino tem menor visibilidade", diz o psiquiatra Marcelo Santos Cruz, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

De acordo com a enfermeira Márcia Fonsi Elbreder, doutoranda em psiquiatria da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), elas têm mais dificuldade em assumir o problema, procurar ajuda e, quando procuram, desistem do tratamento mais fácil.

Para chegar à conclusão, ela acompanhou, em sua tese, 1.051 homens e mulheres. "Há obstáculos morais e estruturais. Ainda há muito preconceito. Essas mulheres são mal vistas. Há poucos ambulatórios e muitos não estão preparados para receber mulheres dependentes."

O álcool no organismo feminino

A mesma dose é capaz de embriagar mais rápido uma mulher do que um homem

Idade - Mulheres mais velhas são ainda mais vulneráveis do que as mais novas. Com a idade, enzimas hepáticas que metabolizam o álcool tornam-se menos eficazes.

Água - Mulheres têm um menor volume de água no corpo em relação aos homens. O álcool fica mais concentrado no sangue.

Estômago - A concentração da enzima ALDH, responsável pela oxidação do álcool, é menor. A bebida é metabolizada mais lentamente e a absorção do álcool acaba sendo maior.

Gordura - Elas têm mais gordura corporal, o que também aumenta a concentração da substância no sangue.

Vulneráveis - Mulheres começam a beber mais tarde do que homens, mas as consequências aparecem mais cedo.

Cirrose - O risco de desenvolver cirrose é maior nelas. Mais de 14 doses por semana já trazem risco à saúde. Eles precisam de pelo menos 21 doses por semana. Uma dose é igual a um copo de chope ou 50 ml de destilados.

Câncer - O risco de ter câncer de mama é 30% maior em mulheres que bebem duas ou mais doses por dia.

Vício - Elas podem desenvolver o vício em cinco anos. Homens demoram, em média, 10 anos.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A ciência adverte: fumar maconha emburrece

MACONHA: A PESQUISA E A REJEIÇÃO NOS EUA

Por Milton Corrêa da Costa, especial para o blog Repórter de Crime

Um recente estudo da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) acaba de ratificar o que já havia sido objeto de pesquisa em outros países: o hábito de fumar maconha frequentemente, mesmo que em pouca quantidade, pode danificar seriamente a área do cérebro responsável pela memória. Por sua vez, na semana passada, a chamada "corrente progressista" -são cerca de 190 milhões de usuários no mundo segundo a ONU- que luta pela legalização do cultivo, venda e consumo da maconha, acaba de sofrer um duro golpe. Nos EUA, a Califórnia, primeiro estado a oficializar o uso medicinal da cannabis em 1996, rejeitou, em referendo popular, tal proposta. Mesmo para uso medicinal o uso da maconha foi ainda rejeitado, pela corrente de conservadores, nos estados de Oregon e Dakota do Sul. Medida de bom senso contra uma droga, com seu componente psicoativo ( tetrahidrocannabinol-THC), cada vez mais potente hoje- vide a maconha hidropônica- que nada tem de tão recreativo assim.



Uma opinião, das mais importantes, já citada inclusive em artigo do jornalista Jorge Antônio Barros de 'O GLOBO', que coloca em xeque o pressuposto de que a maconha é uma droga inofensiva, parte da diretora do Instituto Nacional sobre Abuso de Drogas( EUA), a mexicana Nora Volkow, ao afirmar: "Há quem veja a maconha como uma droga inofensiva.Trata-se de um erro. Comprovadamente, a maconha tem efeitos bastante danosos. Ela pode bloquear receptores neurais muito importantes. Estudos feitos em animais mostraram que, expostos ao componente ativo (THC) há intereferências sob controle do apetite, memória e humor. Isso, causa desde aumento da ansiedade, até a perda de memória e depressão. Claro que há pessoas- prossegue a estudiosa afirmando- que fumam maconha diariamente por toda vida sem que sofram consequências negativas, assim como há quem fume cigarros até os 100 anos de idade e não desenvolva câncer de pulmão. Mas até agora não temos como saber quem é tolerante á droga e quem não é. Então a maconha é sim perigosa", afirmou a psiquiatra que conduziu, na década de 80, estudos comprovando que a cocaína causa dependência química, além de graves danos ao cérebro.

Acrescente-se a constatação de alguns estudiosos sobre o uso da cannabis, em nosso país, como a professora de psiquiatria Maria Teresa Costa de Aquino, da FCM / UERJ, diretora do NEPAD ( Núcleo em Atençao ao Uso Indevido de Drogas), no Rio, que afirma que a maconha pode causar síndrome amotivacional, um estado letárgico de falta de motivação para o trabalho, estudo, atividades físicas e outras tarefas do dia a dia. "A maconha de que falamos hoje não é a mesma de 20 ou 30 anos atrás.A percentagem de substância alucinógena é bem maior", diz a estudiosa.
Outros estudiosos afirmam que a maconha, em uso cont[inuo, pode levar os dependentes a um estado agressivo exacerbado e dar causa a episódios psicóticos. Não custa lembrar que no ano passado em São Paulo, o jovem Carlos Eduardo Sandfeld Nunes, de 24 anos, assassino confesso do famoso cartunista Glauco Villas Boas e do seu filho Raoni, encontrava-se, segundo o exame toxicológico, realizado após o bárbaro crime, sob o efeito de maconha. Cadu, como era chamado o homicida,não estudava, não trabalhava, fumava cannabis desde os 15 anos e passou a traficar a droga há algum tempo para sustentar o vício, apresentando ainda surtos psicóticos (alucinações e delírios).

John McGrath, do Instituto Neurológico de Queensland, na Austrália, numa pesquisa que relaciona psicose ao uso contínuo da maconha, estudou mais de 3.800 homens e mulheres nascidos enttre entre 1981 e 1984 e comparou seus comportamentos, após completarem 21 anos de idade, para perguntar-lhes ( todos já eram pacientes) sobre o uso da maconha em suas vidas, avaliando os entrevistados para episódios psíquicos. Cerca de 18% relataram uso de maconha por três ou mais anos, outros 16% por de quatro a cinco anos e 14% durante seis ou mais anos. Ressalte-se que Cadu, o duplo homicida, fumava maconha há mais de nove anos. A pesquisa de McGrath concluiu que os que tinham seis ou mais anos de uso da droga tinham duas vezes mais chances de desenvolver psicose não afetiva, como esquizofrenia. O estudo foi publicado na revista de psiquiatria " Archives of General Psychiatry".

Assim sendo, ainda que conclusões científicas precisem ser relativizadas, mormente quanto a um tema tão polêmico- cada caso é um caso- não se pode desconsiderar tais estudos e depoimentos. Chega agora a notícia de que o uso prolongado do álcool -droga lícita- causa talvez mais danos do que o crack e a heroína. Outra notícia, muito lamentável, que mostra que a questão da droga não poupa gregos nem troianos, envolve o recente falecimento do surfista Andy Irons (32 anos), três vezes campeão do mundo em sua especilidade esportiva, assinala que o famoso atleta, que já tivera envolvimento com drogas, encontrava-se em processo de recuperação da dependência. Andy havia contráido dengue recentemente, O exame toxicológico, em razão do uso de diferentes medicamentos, revelará a causa-mortis.
A realidade é que o "não" da maioria dos californianos à proposta de legalização da maconha foi medida de bom senso. Já nos bastam os males causados em todo mundo pelo alcoolismo e o tabagismo. Drogas não agregam valores sociais positivos. Há outros prazeres prara os jovens, na vida, sem que necessitem da busca ( falsa) do "mundo colorido" através de estados alterados de consciência. O bom senso determina a proteção de nossas futuras gerações no posicionamento contrário à descriminalização de drogas. Aos pais e responsáveis fica o alerta de que, neste caso, o preço da felicidade é a eterna vigilância de seu filhos. A maconha é uma perigosa porta aberta para o caminho da destruição.
Milton Corrêa da Costa é Coronel da PM do Rio na reserva

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Os desafios para o tratamento do usuário de crack

É fácil tornar-se um dependente químico, mas é difícil fazer o caminho inverso, especialmente quando se depende do Sistema Único de Saúde.

Especialistas que conhecem a fundo os efeitos do crack no organismo dizem que não basta uma tragada para que o usuário fique viciado, mas tornar-se um dependente químico é um processo rápido. Fazer o caminho contrário, contudo, é difícil. Estima-se que a taxa de sucesso dos tratamentos de desintoxicação gira em torno de 25% a 30%.

Ana Cecília Marques, coordenadora do departamento de dependência química da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que o tratamento anticrack é dividido em três fases: desintoxicação, diagnóstico dos fatores que levaram o indivíduo à dependência e controle dessa mesma dependência, que pode incluir uso de medicação. "Na última fase, o usuário precisa fazer essa manutenção, porque a dependência é uma doença crônica", diz. "Ele não vai ter alta: precisa fazer retornos periódicos. Além disso, é necessário avaliar seu processo de reinserção na sociedade."

O caminho para livrar-se da droga pode ser mais tortuoso se depender do Sistema Único de Saúde (SUS). "Infelizmente, no Brasil, não temos um tratamento público para a maior parte dos dependentes químicos", diz Ana Cecilia. Atualmente, para atender esses doentes, o governo federal mantém 8.800 vagas em hospitais psiquiátricos, 243 centros de atenção psicossocial álcool e drogas (Caps-AD), Núcleo de Saúde da Família e 35 Consultórios de Rua. É pouco se considerada a estimativa do Ministério da Saúde de 600.000 usuários somente de crack no país. A rede de saúde mental faz parte do SUS, que tem ações do âmbito federal, estados e municípios - é sempre este que responde pelo atendimento.

Em maio, o governo prometeu, por meio do Plano Integrado para Enfrentamento do Crack e outras drogas, repassar 140 milhões de reais aos municípios brasileiros para o tratamento dos dependentes. No pacote, está o financiamento de 6.120 leitos, que englobam vagas em hospitais gerais, nas comunidades terapêuticas (iniciativas do terceiro setor e de entidades religiosas), nos Caps AD 24 horas e em casas de acolhimento transitório. Os editais para tornar concretas as promessas foram publicados somente no fim de outubro. Ou seja, nada disso está de pé até o momento. Outra promessa: elevar, até o fim deste ano, de 35 para 70 o número de Consultórios de Rua, que levam equipes multiprofissionais até os locais onde estão os usuários. Outro objetivo do projeto é capacitar profissionais de saúde e de assistência social na prevenção e tratamento de usuários de crack e demais drogas - um ponto nevrálgico da questão, segundo Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp): "Capacitar essas equipes é um desafio", diz.

Promessas ambiciosas à parte, os especialistas criticam a qualidade do atual serviço de tratamento nos Caps: faltam médicos especializados, leitos e acompanhamento da evolução dos pacientes. No total, são 1.671 Caps no país, sendo 243 especializados em álcool e drogas. Um estudo publicado neste ano pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) revelou falhas importantes no funcionamento de todos as unidades: de 85 Caps avaliados, 69,4% apresentaram carência de profissionais e em dez deles, dedicados a álcool e drogas, havia um único psiquiatra disponível.

Simultaneamente às ações anunciadas pelo governo, a Secretaria Nacional Antidrogas realiza treze estudos clínicos, com um total de 1.200 pacientes, em parceria com seis universidades brasileiras. O objetivo é acompanhar os pacientes durante a jornada de busca por tratamento, reinserção social e diagnóstico de doenças mentais. "Esses estudos vão nos dar as direções em relação às melhores formas de abordar os pacientes", explica Paulina Duarte, secretária adjunta da Senad e responsável técnica pelo estudo.

As autoridades de saúde terão de responder à urgência do tema e também à demanda crescente por tratamentos. Segundo dados preliminares de um levantamento realizado pelo grupo de pesquisa de Ana Cecília, cresce a procura de usuários de crack por terapias de desintoxicação. A pesquisa acompanha anualmente um grupo de dependentes químicos: há dois anos, o percentual dos viciados em crack que procuravam a ajuda era de 30%; este ano, essa parcela saltou para 70%.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

Bebidas energéticas com cafeína podem favorecer o alcoolismo

Consumidores frequentes dessas bebidas correm mais riscos de sofrer desmaios e os efeitos negativos do álcool

O consumo regular de bebidas energéticas, com altos índices de cafeína, favorece o alcoolismo, revela um estudo publicado nesta terça-feira. A pesquisa, feita com cerca de mil estudantes de universidades americanas, concluiu que consumidores frequentes de energéticos cafeinados bebem álcool mais regularmente e em maior quantidade que os demais, aumentando seu risco de alcoolismo.

Os consumidores frequentes de bebidas energéticas correm ainda mais risco de sofrer problemas relacionados ao álcool, como desmaios e dores de cabeça, e são mais suscetíveis a se machucar, revela o estudo, liderado por Amelia Arria, pesquisadora da Universidade de Maryland.

O trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla sobre o alcoolismo, que será divulgada no próximo ano. O relatório é divulgado em meio a um intenso debate nos Estados Unidos sobre os riscos de bebidas que combinam álcool e cafeína e são especialmente direcionadas aos jovens.

Michigan, Nova York, Oklahoma, Utah e Washington preparam medidas que proíbem bebidas que combinam cafeína ao álcool, do mesmo modo que muitas universidades americanas.
Autor:
OBID Fonte: AFP

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

ORAÇÃO DA SERENIDADE

Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar...
Coragem para modificar aquelas que eu posso... e
Sabedoria para distinguir umas das outras.

sábado, 6 de novembro de 2010

Álcool é mais prejudicial que heroína e crack, revela estudo

EFE
O álcool é mais prejudicial do que a heroína e o crack quanto aos impactos sociais, segundo um estudo publicado nesta segunda-feira na revista médica "The Lancet".O relatório, elaborado por dois ex-assessores do Governo britânico, David Nutt e Leslie King, tem o objetivo de ajudar na elaboração de políticas estatais mais eficazes para reduzir o impacto social de substâncias que causam dependência, entre as que também se inclui o tabaco. Segundo os autores, a tarefa não é fácil, já que essas drogas causam diversos prejuízos aos usuários e à sociedade. Um estudo prévio dirigido por Nutt em 2007 gerou polêmica ao estabelecer nove critérios principais de danos, desde o mal intrínseco das drogas aos custos sanitários que geram, cada um deles com o mesmo peso na avaliação final. Para melhorar o resultado, este estudo utilizou a denominado análise de decisões com múltiplos critérios (MCDA).
Nove dos critérios empregados neste estudo estavam relacionados ao mal que as drogas causam aos usuários e outros sete com os prejuízos que causam à sociedade.
Todos eles foram divididos em cinco subgrupos referentes aos danos físicos, psicológicos e sociais. As substâncias foram avaliadas de 0 a 100, sendo 100 o nível máximo de prejuízo causado em determinado critério. O álcool obteve uma pontuação de 72 pontos, seguido pela heroína, com 55, e o crack, com 54.
Essas drogas foram seguidas por metanfetamina, com 33 pontos, cocaína, com 27, tabaco, com 26, anfetaminas, com 23, maconha, com 20, ácido gama-hidroxibutírico, com 18, benzodiazepina, com 15, quetamina, com 15, metadona, com 14, mefedrona, com 13, gás butano, com 10, khat, êxtases e esteróides anabolizantes, com 9, LSD, com 7, buprenorfina, com 6 e cogumelos alucinógenos, com 5.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O caminho de volta após o estrago do crack

Usuários em tratamento contam a dificuldade em abandonar o vício e falam sobre os danos deixados pela droga na vida deles.

"Todo dinheiro é pouco para quem é dependente químico". A afirmação de Leandro (nome fictício), 32, usuário de crack em tratamento há dois meses, é um alerta sobre o poder devastador que a droga tem no indivíduo, o que se transforma numa problemática que envolve toda a sociedade, e principalmente as famílias que convivem com o usuário dentro de casa. Curiosidade, falta de perspectivas, sentimentos de rejeição e baixa auto-estima, além de problemas mal resolvidos são as principais justificativas para o vício. Para "dar um fogo", expressão dos consumidores do crack, basta despender R$ 5, segundo aponta o ex-usuário, que ainda afirma: "hoje a droga está em todos os lugares".

Mesmo tomando a decisão própria de procurar ajuda clínica, a batalha pela retomada da vida de Leandro está só no começo. "Não tinha noção da minha dependência. Nunca sonhei ou tive vontade de tomar álcool, mas o crack ainda me faz sonhar", afirma numa conversa realizada no Centro de Reabilitação de Dependentes Químicos do Projeto "Cidade Viva", situado na BR-101, na região afastada do Distrito Industrial. Leandro, que chegou a passar 15 dias consumindo a droga dia e noite, lembra a sensação de poder associada aos efeitos, algo que necessitava para exercer a função de gerenciamento de pessoas e tomada de decisões rápidas.

No entanto, além do excesso de autoconfiança, o crack, que ele usava sempre depois que bebia para "despertar", trouxe a degradação da própria vida. "Depois que passava o efeito, vinha a sensação de medo. Passei por uma fase de pensar muito no meu filho. Comecei a ter raiva, desgosto do que estava fazendo", avalia Leandro, que tenta se libertar da dependência num tratamento que deve se estender por nove meses. "Tenho medo de uma recaída de momento. Vi gente desistir do tratamento. A droga é mais forte que a vontade", explica.

A história dele ilustra uma situação cada vez mais comum e que, além das preocupações com o aumento dos índices de violência nas cidades, se transformou em problema de saúde pública. No caso de Leandro, o primeiro contato com as drogas veio aos 13 anos, através do álcool, e depois surgiu o contato com a maconha e a cocaína. O "convite" para experimentar o crack ocorreu ainda esse ano: "Da primeira vez que usei já fiquei fissurado", diz Leandro.
Fonte:O Norte/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)

A vida depois do crack: ex-usuários contam como lutam para se manter longe da droga

Família, trabalho, religião e disciplina ajudam a reaver a esperança perdida.

Quatro dependentes químicos que já estiveram nas páginas de Zero Hora relatando o drama do vício em crack foram procurados outra vez para contar como batalham, todos os dias, para se manter em abstinência. Família, trabalho, religião e disciplina fortalecem o período longe da droga e permitem reaver a esperança perdida

Atleta vitorioso em competições de hipismo, o cavaleiro gaúcho Rodrigo Garcia Bass estava habituado a superar obstáculos até encontrar diante de si uma pedra de crack.

Durante dois anos, período em que sua carreira e seu patrimônio definharam, lutou contra a dependência química. Agora, se apronta para dar uma demonstração pública de que a droga não é uma barreira intransponível. Afastado da pedra, no próximo domingo o cavaleiro campeão vai voltar a competir.

A exemplo dele, que figurou em uma reportagem de Zero Hora sobre os malefícios do crack quando ainda enfrentava o vício, outros personagens de matérias anteriores, atualmente em abstinência, foram procurados para relatar como superam diariamente a dependência. O caso de Bass, 31 anos, é emblemático porque ele se firmou como uma das principais estrelas do hipismo gaúcho ao se sagrar uma vez campeão nacional, outra vice-campeão e conquistar três títulos regionais.

Após se mudar para a Bélgica, durante uma década disputou provas internacionais de primeira linha e trabalhou junto a um dos mais respeitados cavaleiros do mundo, o belga Ludo Philippaerts. Há cerca de quatro anos, em visita a familiares no Brasil, decidiu se repatriar. Meses depois, porém, a carreira galopante empacaria diante de um obstáculo imprevisto.

Oferecida por uma mulher, a primeira pedra de crack domou o cavaleiro porto-alegrense e o obrigou a apear dos cavalos – paixão familiar cultivada desde a infância. A fissura provocada pelo tóxico o levou a perder horários e compromissos, afrouxar os treinos e, por fim, abandonar as competições. Em uma noite, chegava a consumir 60 pedras compradas por cerca de R$ 300. Como resultado, o patrimônio acumulado durante a temporada europeia virou fumaça. Vendeu por uma ninharia até o equipamento de cavaleiro, como uma sela de 3 mil euros.

Internou-se uma vez em São Paulo, onde morava, e outras duas em Porto Alegre, para onde se transferiu em uma tentativa desesperada de mudar de ares. Depois de duas recaídas, concluiu há quatro meses a última e bem-sucedida internação em uma fazenda terapêutica, onde permaneceu em abstinência por outros nove meses. O sofrimento de sua mãe e a vontade de retomar as rédeas serviram de estímulo ao cavaleiro, que cumpriu à risca o tratamento. Desde sua liberação da fazenda, também adotou uma nova rotina.

– Levo uma vida regrada. Acordo às 6h, faço academia, vou trabalhar, tenho duas reuniões de autoajuda e duas sessões de terapia por semana. Nos finais de semana, passo mais tempo com a família – afirma Bass.

Resgate da autoestima

O cavaleiro recuperou o material de equitação perdido, como sela e cabeçadas. Ainda não conseguiu comprar um novo carro, mas faz planos de adquirir um em breve. É responsável por cuidar de cerca de 20 cavalos e dá lições de equitação a 15 alunos. Mora com a mãe e o padrasto e pretende continuar assim até se sentir novamente seguro para viver sozinho.

– É um processo lento, e o apoio da família é fundamental. Sozinho, a gente não consegue nada – admite, lembrando que a dependência é uma doença crônica e sujeita a recaídas.

Mesmo aconselhado por amigos a esconder sua história no anonimato, Bass diz que faz questão de servir de exemplo positivo em um ambiente onde costumam prevalecer os relatos de tragédias irreversíveis. Tem um projeto, em parceria com uma psicóloga, de levar a equoterapia para dentro das comunidades de tratamento de dependentes químicos a fim de contribuir no processo de reabilitação. Mas é no próximo domingo que o atleta pretende dar um passo definitivo rumo à reabilitação.

A partir das 9h, quando montar na égua Lasina para retomar as competições após dois anos entregues ao vício, na hípica da Capital, pretende dar um salto simbólico sobre o crack – a barreira diante da qual milhares de vítimas desabam a cada ano, mas que o campeão gaúcho de hipismo está determinado a deixar para trás.

– Voltar a competir será uma emoção imensa, e um resgate da autoestima. Viver tudo isso de cara limpa é maravilhoso – garante.
Fonte:Zero Hora/ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)