segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Crack: A destruição da sociedade

Tribuna da Bahia
O consumo do crack tem preocupado governo e a sociedade em geral, uma droga que começou a ser consumida por crianças, adolescentes e jovens de classes menos favorecidas pelo fato do preço ser bem mais inferior que o das outras drogas.

Mas agora está atingindo todas as classes sociais e o produto, que é feito das sobras impuras da cocaína misturadas com bicarbonato de sódio, está causando um dos maiores malefícios no organismo do indivíduo viciado.

A origem do seu nome já demonstra quão perigosa é a droga, pois deriva do verbo “to crack”, que, em inglês, significa quebrar, devido aos pequenos estalidos produzidos pelos cristais (as pedras) ao serem queimados, como se quebrassem.

O médico Andre Caribé, psiquiatra do Centro de Informação Anti-Veneno da Secretaria de Saúde do Estado (Ciave) afirma que o crack, “não é uma droga nova, ela é uma forma de apresentação da cocaína. Esta, para uso ilícito, pode ser preparada na forma de pó, pasta ou crack”, explicou.

Segundo o psiquiatra, a droga surgiu como opção para popularizar a cocaína, pelo seu baixo custo e relata como é produzida: “uma mistura de cocaína em pó (ainda não purificada) dissolvida em água e acrescida de bicarbonato de sódio (ou amônia) e outras substâncias, é aquecida”.

Em seu relato Caribé explica que o aquecimento separa a parte sólida da líquida. “Após a parte sólida secar, é cortada em forma de pedras. Por não passar pelo processo final de refinamento pelo qual passa a cocaína, o crack, possui uma grande quantidade de resíduos das substâncias utilizadas durante todo o processo”, sinalizou.

O psiquiatra disse que quando prontas para o consumo, as pedras podem ser fumadas com a utilização de cachimbos, geralmente improvisados. “Ao serem acesas, as pedras emitem um som, daí a origem do nome “crack”, que deriva do verbo em inglês “to crack” que significa “quebrar””, informou.

Os efeitos desta droga no organismo do indivíduo “são basicamente os mesmos da cocaína: sensação de poder, excitação, hiperatividade, insônia, intensa euforia e prazer. Ansiedade, paranóia, e inquietação, agitação também são frequentes”, alertou o psiquiatra. “Além do mais, por ser inalado, o crack chega rapidamente ao cérebro, por isso seus efeitos são sentidos quase imediatamente, em 10 a 15 segundos”, lamentou.

Por outro lado, estes efeitos duram em média 5 minutos, afirmou Caribé, explicando que este é o motivo que leva o usuário a usar o crack muitas vezes em curtos períodos de tempo, tornando-se dependente rapidamente. “Isso explica em parte o grande poder de dependência do crack, pois dentre as formas de apresentação e uso da cocaína, o crak tem um início de ação mais rápido e mais efêmero”.

A ação da droga no organismo

No cérebro, a cocaína e o crack têm mecanismo de ação complexos, mas “ de maneira geral agem como bloqueadores da recaptação de neurotransmissores como a dopamina, serotonina, e noradrenalina deixando-os mais disponíveis nas fendas sinápticas para atuar nos receptores neuronais. A atuação no sistema dopaminérgico, principalmente na via mesolimbica, ativa o sistema de recompensa cerebral, fazendo com que o individuo se torne mais dependente da droga. Outros estudos, apontam também a atuação do crack e da cocaína no sistema gabaergico e glutamatergico”, discorreu.

Os órgãos mais afetados devido ao uso da droga, de acordo com o médico, “o cerébro, por questões farmacocinéticas da droga, mas também outros órgãos são afetados como pulmão, coração, vias aéreas.etc.

Como o crack está sendo usado de uma maneira assustadora, a maior preocupação da sociedade em geral é se há cura para este mal. Sobre isto, o psiquiatra revela que o “ tratamento de qualquer dependência química é complexo e demorado, mas possível, desde de que o dependente tenha acesso a serviço especializado, com a presença de psiquiatras, psicólogos, terapeutas e outros profissionais”.

Ele destaca que se deve associar o tratamento medicamentoso com o psicoterápico, mas é fundamental a participação ativa e o empenho do paciente, senão dificilmente ele conseguira se livrar do vício.

“Além disso em muitos casos é necessário a internação do paciente em clínica ou hospital especializado, pois nem todo dependente é possível o manejo adequado em nível ambulatorial. Porém hoje em dia no Brasil, devido às políticas públicas de saúde mental, está cada vez mais difícil se conseguir uma internação psiquiátrica adequada para quem não pode pagar uma clínica particular”.
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)