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sexta-feira, 2 de setembro de 2011
Drogas e infertilidade
O álcool tem efeitos devastadores sobre a saúde do indivíduo e sobre as suas relações sociais e familiares. A cada ano, jovens estão consumindo cada vez mais precocemente as bebidas alcoólicas, fazendo parte de um ritual de passagem entre a adolescência e a idade adulta.
Desde os tempos imemoriais, o ser humano tem recorrido ao uso de drogas para escapar da realidade e viver um mundo de fantasia. É extremamente chocante constatar que grandes celebridades do esporte, das artes e de outras profissões utilizam-se de drogas para conseguir alcançar níveis de satisfação e produtividade nas suas áreas de atuação. O consumo de drogas ilícitas vem aumentando substancialmente tornando-se um pesadelo para a humanidade, afetando o relacionamento familiar, provocando repercussões sociais e prejudicando a saúde dos indivíduos.
Além dos efeitos maléficos sobre o corpo e a mente dos usuários, as drogas também prejudicam o sistema reprodutivo. O usuário fica mais suscetível às doenças sexualmente transmissíveis, dificultando a obtenção e evolução de uma gravidez saudável. O álcool e o tabaco - embora consideradas drogas lícitas causam danos irreparáveis tanto quanto a maconha, cocaína, heroína, ecstasy, LSD, crack, narguile, cetamina, inalantes, solventes, ansiolíticos, barbitúricos, ópio, morfina, heroína, oxi, anfetaminas.
Apesar das campanhas publicitárias desencorajando o uso do tabaco, estima-se que no Brasil haja 33,8% de usuários na população masculina e 29,3% das mulheres; sem levar em conta um enorme contingente de fumantes passivos. Mesmo com as atuais tributações de impostos governamentais sobre o cigarro isso não tem sido suficiente para frear o seu uso.
A fertilidade do homem e da mulher é afetada de forma sorrateira em decorrência da ação tóxica das inúmeras substâncias que integram o tabaco, geradoras de radicais livres. A mulher fumante pode ter dificuldade para engravidar, interrupção da gravidez, retardo de crescimento fetal intra-uterino e recém nascido de baixo peso. O seu patrimônio de óvulos é reduzido em decorrência da ação tóxica das substâncias do tabaco e há diminuição do fluxo sanguíneo das artérias que irrigam os ovários. A fertilidade masculina é afetada devido à ação deletéria das substâncias tóxicas e dos radicais livres, produzindo lesões na membrana e no DNA dos espermatozóides. Em casos extremos pode ocorrer morte celular (apoptose) provocando alterações no patrimônio de espermatozóides. Existem repercussões negativas no comportamento sexual, sendo a mais frequente a disfunção de ereção peniana decorrente de dificuldade de irrigação vascular.
Apesar de ser uma droga lícita, o álcool tem efeitos devastadores sobre a saúde do indivíduo e sobre as suas relações sociais e familiares. A cada ano, jovens estão consumindo cada vez mais precocemente as bebidas alcoólicas, fazendo parte de um ritual de passagem entre a adolescência e a idade adulta. Nos últimos 5 anos, os números estatísticos revelaram um aumento de 30% de usuários entre os jovens de 12 a 17 anos e de 25% entre os jovens de 18 a 24 anos. A cerveja é a bebida preferida. Segundo a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) os jovens alcoolizados constituem 80% das pessoas que morrem em acidentes de trânsito ou homicídios.
O consumo exagerado e persistente pode levar a repercussões negativas sobre a fertilidade masculina e feminina. No homem podem ocorrer: queda da libido e do desempenho sexual, impotência, atrofia das células produtoras de testosterona, dificuldade de ereção e alterações da qualidade do sêmen. Na mulher existem várias repercussões salientando-se a dificuldade para ovular, distúrbios menstruais, aumento do risco de abortamento e possibilidade de mal formação fetal.
Uma constatação preocupante é de que os indivíduos alcoolizados têm um comportamento sexual de risco, expondo-se a doenças sexualmente transmissíveis (DST) principalmente as hepatites e Aids. Atualmente a medicina reprodutiva tem realizado procedimento muito seguro de fertilização in vitro , utilizando a técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozóide (ICSI) com tratamento especial que evita a transmissão do vírus para o embrião.
* Prof. Dr. Dirceu Henrique Mendes Pereira CRM (13834) é doutor em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e Diretor-Médico da Clínica Profert de São Paulo
Fonte:ABEAD(Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas)