Por Milton Jung
Em um único dia, acompahando o infernal mundo do crack e seus efeitos sobre a população de rua. Inacreditável, contei 35 brigas, parte em discussões verbais, parte em agressões físicas. Brigas fortes, algumas de tirar sangue. É preocupante, pelo menos metade delas podia ter chegado ao homicídio. O que seria, indiscutivelmente, mais um massacre. Quando a cidade fecha pelas ruas do centro, aos fins de semana, em plena luz do dia, insurgem em estado de zumbis, completamente transformados e transtornados .Principalmente na região da Luz, mas não é só.
O que outrora era termo pejorativo agora é fato, realmente a Cracolândia existe, hoje espalhada pelo país afora.
Está tudo fora de controle.
A incidência do vício entre os moradores de rua, é disparadamente maior, o grau de vulnerabilidade da rua não pode mais ser considerado médio como se faz nas conferências municipal, estadual e, principalmente, nacional de assistência social.
A segurança pública falhou, mas é também um caso de saúde. No caso dos moradores de rua, é resultante das falhas de tudo, de todas as políticas existentes e até da falta de afeto. O ponto alto porém é a falta de perspectivas.
Na caminhada que fiz entre os craqueiros, encontrei pessoas amigas, muita gente que reconhecemos e tantas outras que nos conhecem. O motivo, o mesmo, perderam as esperanças na vida, não aguentam mais discussões e debates e ações paliativas vadevindas de todas as partes.
Poder público, movimentos sociais, defensores de direitos humanos, polícia, guarda municipal, a sociedade num todo. Tem que mudar os modos de discutir os problemas, as questões, debate por debate, troca de ofensas, acusações e desmentidos, não funcionam mais. As pessoas estão cansadas, os moradores de rua estão saturados e não aguentam mais tanto bate rebate.
Essa droga empesteada, ta destruindo o Brasil, ta destruindo o Rio de Janeiro e vai avassalar São Paulo feito um tornado.
É caso de polícia ? O que podem fazer os policiais ? Prender ? Prender quem ? Onde, pra que ? O que podem fazer a Guarda ? bater ? Em quem ? Com que finalidade ?
O que podem fazer os defensores dos direitos humanso ? Defender como ? Quem ? De quê ?
Se faltam abrigos, se faltam estímulos, se faltam alternativcas de saídas, de melhorias de vida, de mudanças de um mundo melhor, que o mundo invisível, caminhara para o túnel, sem saída, um poço cada dia mais sem fundo,
É caso de coerência e bom senso.
Saúde, assistência, segurança pública, tudo isso falra e muito mais, falta de devolver oportunidades, de estudar, de trabalhar, de morar, de entender a vida em tempos de capitalismo. Não são as moedas sociais, não são as missas e cultos, não são as algemas da lei que vão devolver de volta o gosto pela vida. Isso sim está faltando. As pessoas que moram nas ruas precisam, carecem recuperar o gosto pela vida, de ter oportunidades, de poder sonhar e lutar pela vida como todo e quaquer cidadão de bem.
E não consigo mencionar da forma ajustadinha “pessoa que mora em situação de rua”, por isso digo como dizia nos meus tempos de “morador de rua”, no mínimo pessoa que mora na rua, e não é uma questão de terminologia, de palavras bonitas. O que tem que ser pensando e resolvido são as formas de se dar condições de as pessoas querendo, poder sair da rua, tocar a vida em frente, pensar a vida pós rua, pós albergue, a vida pós rede de acolhida.
Sem desespero, sem medo da fome, sem medo do despejo, sem medo de ser feliz. É disso que a rua precisa, de condições de vida digna.
Infelizmente, o crack tende a assombrar a nossa cidade, a nossa querida São Paulo; tende a assombrar famílias e pessoas sós; o mundo das drogas e o dessa praga do crack, é mais um caminho para a destruição das pessoas, das vidas, dos sentimentos.
A situação está, sim, infelizmente fora de controle.